Skip to main content

Metralhadoras e circo em Newtown

1. Newtown fica a menos de 45 minutos de New Haven, perto de Danbury, que costumava ser um centro importante de imigrantes brasileiros aqui em CT. 40 funcionários/professores de Yale moram lá. É uma cidadezinha como outra qualquer de um estado americano que não é conhecido pela defesa ferrenha das armas de fogo;
2. Newtown é sede de uma associação chamada National Shooting Sports Foundation, que atua na defesa dos "direitos" de qualquer cidadão ter a sua metralhadora em casa;
3. Ainda em 2012, após reclamações constantes por causa de barulho, a cidade tentou criar leis restringindo um pouco o uso de armas de fogo. Os proponentes eram policiais e caçadores registrados da região que se preocupavam com o problema;
4. A segunda reunião sobre o tema foi invadida por um número considerável de gente opondo-se radicalmente a qualquer restrição e a proposta acabou sendo arquivada;
5. Entre os proprietários desse tipo de armamento estava a mãe de Adam Lanza, que ensinou aos dois a atirar e acreditava na possibilidade de  um colapso eminente da civilização;
6. O resto todos conhecem. Os jornais entopem suas primeiras páginas de fotografias de crianças assassinadas e deve haver mais repórteres agora que a população inteira da cidade de Newtown enchendo a paciência de qualquer padeiro da cidade da cidade por mais uma entrevista lacrimosa e perseguindo os familiares das vítimas incessantes;
7. Meu único contato com a mídia é pelo rádio no carro e pelos jornais na internet - assim nossa casa é mais ou menos imunizada contra a histeria coletiva que se espalha pela região. In infelizmente meu filho deve estar agora na escola entregue a essa obsessão pelos detalhes mais insignificantes da tragédia e pela paranóia geral - ouvi no rádios que os pais tem procurado as escolas para pedir mais "segurança".

Comments

Popular posts from this blog

Contos: "O engraçado arrependido" de Monteiro Lobato

Monteiro Lobato conta em "O engraçado arrependido" a história trágica de um homem que não consegue se livrar do papel de palhaço da cidade, papel que interpretou com maestria durante 32 anos na sua cidade interiorana. Pontes é um artista, um gênio da comédia e por motives de espaço coloco aqui só o miolo da introdução em que o narrador descreve o ser humano como “o animal que ri” e descreve a arte do protagonista: "Em todos os gestos e modos, como no andar, no ler, no comer, nas ações mais triviais da vida, o raio do homem diferençava-se dos demais no sentido de amolecá-los prodigiosamente. E chegou a ponto de que escusava abrir a boca ou esboçar um gesto para que se torcesse em risos a humanidade. Bastava sua presença. Mal o avistavam, já as caras refloriam; se fazia um gesto, espirravam risos; se abria a boca, espigaitavam-se uns, outros afrouxavam os coses, terceiros desabotoavam os coletes. E se entreabria o bico, Nossa Senhora! eram cascalhadas, eram rinchavelhos, e...

Poema meu: Saudades da Aldeia desde New Haven

Todas as cartas de amor são Ridículas. Álvaro Campos O Tietê é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia, mas o Tietê não é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia porque não corre minha aldeia. Poucos sabem para onde vai e donde vem o ribeirão da minha aldeia, 
 que pertence a menos gente 
 mas nem por isso é mais livre ou menos sujo. O ribeirão da minha aldeia 
 foi sepultado num túmulo de pedra para não ferir os olhos nem molhar os inventários da implacável boa gente da minha aldeia, mas, para aqueles que vêem em tudo o que lá não está, 
 a memória é o que há para além do riberão da minha aldeia e é a fortuna daqueles que a sabem encontrar. Não penso em mais nada na miséria desse inverno gelado estou agora de novo em pé sobre o ribeirão da minha aldeia.

Uma gota de fenomenologia

Esse texto é uma homenagem aos milhares de livrinhos fininhos que se propõem a explicar em 50 páginas qualquer coisa, do Marxismo ao machismo e de Bakhtin a Bakunin: Uma gota de fenomenologia Uma coisa é a coisa que a gente vive nos ossos, nos nervos, na carne e na pele; aquilo que chega e esfria ou esquenta o sangue do caboclo. Outra coisa bem outra é assistir essa mesma coisa, mais ou menos de longe. Nem a mãe de um caboclo que passa fome sabe o que é passar fome do jeito que o caboclo que passa fome sabe. A mãe sabe outra coisa, que é o que é ser mãe de um caboclo que passa fome. Isso nem o caboclo sabe: o que ela sabe é dela só, diferente do caboclo e diferente do médico que recebe o tal caboclo e a mãe dele no hospital. O médico sabe da fome do cabloco de um outro jeito porque ele já ficou mais longe daquela fome um tanto mais que a mãe e outro tanto bem mais que o caboclo. O jeito que o médico sabe da fome daquele caboclo pode ser mais ou menos só dele ainda, mas isso só se ele p...