Trecho de entrevista de Vladimir
Safatle ao Coletivo Zagaia acessível no site da revista Sibila:
“normalmente quando se fala sobre a
autonomia da arte isso parece um pouco retomar um discurso da arte pela arte,
onde a relação entre arte e sociedade desaparece. Eu insistiria no contrário:
só quando é radicalmente autônoma, quando a arte fala dela mesma, ela é
política; só quando ela deixa de falar da sociedade e fala dela mesma que ela é
política. Por quê? Jacques Rancière tem uma ideia boa a esse respeito, que é
mais ou menos a seguinte: aqueles que criticaram a importância da discussão
sobre a autonomia no modernismo estético, esqueceram que a autonomia é uma
maneira que a arte tinha de fazer apelo a uma comunidade por vir; ou seja, uma
maneira de dizer que a obra de arte não reconhece mais a ordem reificada na
realidade social. Ela não conhece mais o modo de visibilidade naturalizado na
realidade social, não conhece mais o modo de narrativa reificado na realidade
social. A arte procura constituir uma comunidade possível a partir de uma outra
visibilidade, ou de uma outra narrativa, de um outro modo de ordenamento; e
isso só ocorre quando ela é radicalmente autônoma.”
Comments