Arte minha: Auto-Retrato 3 |
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Que fique bem claro: mesmo sem chegar aos extremos patológicos da
depressão e da síndrome do pânico nem a abertura radical para o que está além
do corpo nem a soberania estática do corpo imóvel são puramente libertadores. Em
primeiro lugar porque liberdade é uma
palavra que, num mundo cada vez mais fechado a alternativas viáveis de vida, é
usada apenas como eufemismo para a velha fé na transcendência, santa que não
conta a minha devoção. Em segundo lugar porque a verdadeira abertura para o
outro não tem nada a ver com a farsa do multi-culturalismo, que imagina um
outro que é, no fundo, apenas mais do mesmo, e porque o fechamento dos sentidos
do corpo para o mundo, seja que mundo for, é sempre sinônimo de morte. A
dolorosa e desgastante abertura do corpo para o mundo é o que chamamos de vida
– e não é atoa que envelhecemos. A alternativa é terrível: a morte.
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