Nos estados do sul dos Estados Unidos no começo do século XX um negro era enforcado ou queimado vivo [ou alguma combinação grotesca dos dois] a cada QUATRO dias. Até então 90% dos negros americanos viviam nos estados do sul, numa situação que não devia absolutamente nada ao apartheid da África do Sul.
Entre 1915 e 1918 meio milhão de negros americanos migraram para o o norte e entre 1920 e 1930 mais 1.3 milhão de negros chegaram principalmente nas grandes cidades industriais da época: Chicago, Detroit, Nova York, Filadelfia e Los Angeles.
Depois disso que foi chamado "A Grande Migração", 53% dos negros americanos ainda viviam no sul. Com eles Martin Luther King se levantaria e sacudiria as coisas ao ponto em que chegamos hoje, ainda longe da igualdade, ainda longe da justiça, mas longe do mundo construído por gente como James K. Vardaman [que dizia "imporemos a ordem nem que tenhamos que linchar todos os negros do estado] e Theodore Bilbo, [que sozinho impediu a votação que varia do linchamento um crime [se esta lei passar as portas do inferno estarão abertas no Sul].
Nas cidades do norte esses migrantes analfabetos ou semi-analfabetos enfrentaram um racismo quase também duro, que segregava brancos e negros rigidamente em cidades e bairros com escolas e serviços muito diferentes e, nesse ponto como no Brasil, submetiam os negros a uma polícia e um judiciário racista que os prendem mais e os condenam proporcionalmente a penas maiores.
E mesmo assim muitos dos filhos e netos daqueles migrantes acabariam formando uma classe média negra - na verdade uma classe operária com alto nível de vida - que a desindustrialização dos Estados Unidos tratou de comprimir bastante, mas que dá notável visibilidade não apenas a atletas mas também a professores universitários, advogados, médicos, políticos etc.
O livro de Janice Pearlman chamado Favela, que leva em conta quatro gerações de habitantes de algumas favelas do Rio de Janeiro é conta algo parecido no Brasil, uma história dessa gente toda que largou a opressão no campo por uma vida um pouco menos marcada na cidade e lutou e às vezes não chegou a lugar nenhum mas muitas outras tantas vezes legou a cada geração da família uma vida um pouquinho melhor. Uma pena que o livro parte de uma série de parâmetros "científicos" da sociologia que não me atraem muito. Falta alguém que aproveite as mil histórias que estão para se apagar com velhinhos e velhinhos de vários bairros afastados do centro como vez Isabel Wilkerson em The Warmth of Other Suns: The Epic Story of America's Great Migration. Wilkerson entrevistou um montão de velhinhos em Chicago e montou um mosaicos de histórias incríveis que vale a pena ler - o enfoque não é ficcional mas é literário. Não estou entre os entusiastas de um livro como Favela de Deus, que eu acho que é um bom romance, mas que também repete de maneira impressionante certos procedimentos naturalistas que reforçam a visão de que essa massa, que se não é a maioria é uma imensa porção da população brasileira, vive trocando tiro feito animais encurralados - algo que quem sabe o seriado Cidade dos Homens tentou de alguma compensar. Mas estou muito interessado no que vem por aí, que há de estar à altura desses heróis anônimos que, contra tanta coisa e às vezes tão pouco preparados para essa luta ingrata, já nos trouxeram até onde chegamos.
Entre 1915 e 1918 meio milhão de negros americanos migraram para o o norte e entre 1920 e 1930 mais 1.3 milhão de negros chegaram principalmente nas grandes cidades industriais da época: Chicago, Detroit, Nova York, Filadelfia e Los Angeles.
Depois disso que foi chamado "A Grande Migração", 53% dos negros americanos ainda viviam no sul. Com eles Martin Luther King se levantaria e sacudiria as coisas ao ponto em que chegamos hoje, ainda longe da igualdade, ainda longe da justiça, mas longe do mundo construído por gente como James K. Vardaman [que dizia "imporemos a ordem nem que tenhamos que linchar todos os negros do estado] e Theodore Bilbo, [que sozinho impediu a votação que varia do linchamento um crime [se esta lei passar as portas do inferno estarão abertas no Sul].
Nas cidades do norte esses migrantes analfabetos ou semi-analfabetos enfrentaram um racismo quase também duro, que segregava brancos e negros rigidamente em cidades e bairros com escolas e serviços muito diferentes e, nesse ponto como no Brasil, submetiam os negros a uma polícia e um judiciário racista que os prendem mais e os condenam proporcionalmente a penas maiores.
E mesmo assim muitos dos filhos e netos daqueles migrantes acabariam formando uma classe média negra - na verdade uma classe operária com alto nível de vida - que a desindustrialização dos Estados Unidos tratou de comprimir bastante, mas que dá notável visibilidade não apenas a atletas mas também a professores universitários, advogados, médicos, políticos etc.
O livro de Janice Pearlman chamado Favela, que leva em conta quatro gerações de habitantes de algumas favelas do Rio de Janeiro é conta algo parecido no Brasil, uma história dessa gente toda que largou a opressão no campo por uma vida um pouco menos marcada na cidade e lutou e às vezes não chegou a lugar nenhum mas muitas outras tantas vezes legou a cada geração da família uma vida um pouquinho melhor. Uma pena que o livro parte de uma série de parâmetros "científicos" da sociologia que não me atraem muito. Falta alguém que aproveite as mil histórias que estão para se apagar com velhinhos e velhinhos de vários bairros afastados do centro como vez Isabel Wilkerson em The Warmth of Other Suns: The Epic Story of America's Great Migration. Wilkerson entrevistou um montão de velhinhos em Chicago e montou um mosaicos de histórias incríveis que vale a pena ler - o enfoque não é ficcional mas é literário. Não estou entre os entusiastas de um livro como Favela de Deus, que eu acho que é um bom romance, mas que também repete de maneira impressionante certos procedimentos naturalistas que reforçam a visão de que essa massa, que se não é a maioria é uma imensa porção da população brasileira, vive trocando tiro feito animais encurralados - algo que quem sabe o seriado Cidade dos Homens tentou de alguma compensar. Mas estou muito interessado no que vem por aí, que há de estar à altura desses heróis anônimos que, contra tanta coisa e às vezes tão pouco preparados para essa luta ingrata, já nos trouxeram até onde chegamos.
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