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Prosa minha: Infância 1



Fotos minhas: Arte das Varetas 2 e Arte das Varetas 5
A primavera cá em cima começa sempre assim: triste, tímida, vacilante, úmida, custando a firmar. A chuva conversa com a terra molhada e o vento entoa baixinho na janela do quarto, consolando o choro do menino deitado na cama. A solidão depois da tormenta é também consolo e conquista depois do torra. Não pelo torra em si, mas pela soma hoje. Tudo o que fez ou deixou de fazer, com ou sem intenção de dolo, hoje estava errado. Até falar sozinho, sem mexer com ninguém nem nada, atraía raiva. Desde quando os pais não gostam mais dele? Ele não pergunta por suspeitar o pior. O menino, como todo o bicho que circula perto de gente grande, é estóico. E não gosta de apanhar como parece que gosta o seu irmão, rapazinho saído que lhe servia às vezes de pára-raio, fazendo entornar o caldo para o outro lado que não o dele. Hoje o irmão não está e é mais prudente guardar muito silêncio. Volta agora a vontade de chorar mais forte. A chuva e o vento conversam com a solidão do menino pela janela do quarto. A primavera cá em cima começa sempre assim: triste, tímida, vacilante, úmida, custando a firmar.    

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