Skip to main content

Notas para livros impossíveis

1.
"Ao invés de dar sua própria opinião, um grande crítico possibilita aos outros formar a opinião deles com base na sua análise crítica."

"O realismo de ontem é o maneirismo de hoje."

2.
"As coisas para ele eram engraçadas e tristes ao mesmo tempo, mas você não conseguiria ver a tristeza das coisas se não enxergasse a sua graça porque as duas estavam amarradas."

Meu tio Zuza costumava dizer que o que a mulher mais queria do homem era mandar no casamento, mas há que se considerar que meu tio Zuza viveu a vida inteira solteiro.

3.
"O mundo diminuiu sem que tenhamos crescido."

"Antes de criar devemos existir mas para existir havemos de criar sem trégua."

Não somos consumistas por frivolidade mas por desespero. Nosso mundo está dividido em duas metades complementares. Uma delas é o terrível universo da produção: dominado pelo intelecto, pela objetividade, pela padronização e pelo mais desapiedado desencantamento. A outra metade é o fantástico universo do consumo, dominado pela magia, pela subjetividade, pela crença na afirmação da existência como individualidade e pelo mais despudorado re-encantamento. O mundo do trabalho nos suga as energias até o osso e onde é que nos oferecem descanso? No mundo do consumo.

Comments

Anonymous said…
Por essa definição, ser um grande crítico é tão impossível quando ser um grande professor. =)
(Tata)
É de Walter Benjamim, Tata. Quer dizer, traduzido do alemão para o inglês em citação num livro sobre outra pessoa e dali traduzido para o português, nem sei se é dele ainda ;). O que eu entendi foi que é melhor a gente centrar o foco em compartilhar o que a gente descobriu lendo e fuçando o que leu do que em dizer que a gente gostou ou não como se isso fosse importantíssimo para o resto do mundo. E essas descobertas podem ser feitas tanto em livros que adoramos como em livros pelos quais não temos grande apreço pessoal. Fica como uma utopia de crítica, mas se a gente não tenta aí é que não chega mesmo a lugar nenhum, não é?

Popular posts from this blog

Contos: "O engraçado arrependido" de Monteiro Lobato

Monteiro Lobato conta em "O engraçado arrependido" a história trágica de um homem que não consegue se livrar do papel de palhaço da cidade, papel que interpretou com maestria durante 32 anos na sua cidade interiorana. Pontes é um artista, um gênio da comédia e por motives de espaço coloco aqui só o miolo da introdução em que o narrador descreve o ser humano como “o animal que ri” e descreve a arte do protagonista: "Em todos os gestos e modos, como no andar, no ler, no comer, nas ações mais triviais da vida, o raio do homem diferençava-se dos demais no sentido de amolecá-los prodigiosamente. E chegou a ponto de que escusava abrir a boca ou esboçar um gesto para que se torcesse em risos a humanidade. Bastava sua presença. Mal o avistavam, já as caras refloriam; se fazia um gesto, espirravam risos; se abria a boca, espigaitavam-se uns, outros afrouxavam os coses, terceiros desabotoavam os coletes. E se entreabria o bico, Nossa Senhora! eram cascalhadas, eram rinchavelhos, e...

Poema meu: Saudades da Aldeia desde New Haven

Todas as cartas de amor são Ridículas. Álvaro Campos O Tietê é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia, mas o Tietê não é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia porque não corre minha aldeia. Poucos sabem para onde vai e donde vem o ribeirão da minha aldeia, 
 que pertence a menos gente 
 mas nem por isso é mais livre ou menos sujo. O ribeirão da minha aldeia 
 foi sepultado num túmulo de pedra para não ferir os olhos nem molhar os inventários da implacável boa gente da minha aldeia, mas, para aqueles que vêem em tudo o que lá não está, 
 a memória é o que há para além do riberão da minha aldeia e é a fortuna daqueles que a sabem encontrar. Não penso em mais nada na miséria desse inverno gelado estou agora de novo em pé sobre o ribeirão da minha aldeia.

Uma gota de fenomenologia

Esse texto é uma homenagem aos milhares de livrinhos fininhos que se propõem a explicar em 50 páginas qualquer coisa, do Marxismo ao machismo e de Bakhtin a Bakunin: Uma gota de fenomenologia Uma coisa é a coisa que a gente vive nos ossos, nos nervos, na carne e na pele; aquilo que chega e esfria ou esquenta o sangue do caboclo. Outra coisa bem outra é assistir essa mesma coisa, mais ou menos de longe. Nem a mãe de um caboclo que passa fome sabe o que é passar fome do jeito que o caboclo que passa fome sabe. A mãe sabe outra coisa, que é o que é ser mãe de um caboclo que passa fome. Isso nem o caboclo sabe: o que ela sabe é dela só, diferente do caboclo e diferente do médico que recebe o tal caboclo e a mãe dele no hospital. O médico sabe da fome do cabloco de um outro jeito porque ele já ficou mais longe daquela fome um tanto mais que a mãe e outro tanto bem mais que o caboclo. O jeito que o médico sabe da fome daquele caboclo pode ser mais ou menos só dele ainda, mas isso só se ele p...