Skip to main content

Um conto/poema em prosa de Julio Torri

Esse é para fazer refletir quem acha que artifício e sinceridade são opostos perfeitos...


O mal ator de suas emoções
Julio Torri


E ele chegou à montanha onde vivia o ancião. Seus pés estavam ensangüentados por causa das pedras no caminho e o brilho dos seus olhos manchado pelo desalento e pelo cansaço.
- Senhor, sete anos se passaram desde que vim pedir-lhe conselho. Os varões dos mais remotos países louvavam sua santidade e sua sabedoria. Cheio de fé escutei as suas palavras: “ouve a teu próprio coração, e o amor que tenhas por teus irmãos não ocultes.” E desde então não encobria minhas paixões aos homens. Meu coração foi para eles como guia em águas claras. Mas a graça de Deus não desceu sobre mim. As mostras de amor que dei a meus irmãos, eles as tomaram por fingimento. E veja então como a solidão obscureceu o meu caminho.
O ermitão o beijou três vezes na testa; um leve sorriso iluminou a sua face e ele disse:
- Encobre o amor que tenhas a teus irmãos e dissimula tuas paixões ante os homens, porque és, meu filho, um mal ator de tuas emoções.


El mal actor de sus emociones
Julio Torri

Y llegó a la montaña donde moraba el anciano. sus pies estaban ensangrentados de los guijarros del camino, y empañado el fulgor de sus ojos por el desaliento y el cansancio.
- Señor, siete años ha que vine a pedirte consejo. Los varones de los más remotos países alaban tu santidad y tu sabiduría. Lleno de fe escuché tus palabras: “Oye tu propio corazón, y el amor que tengas a tus hermanos no lo celes.” Y desde entonces no encubría mis pasiones a los hombres. Mi corazón fue para ellos como guía en agua clara. Mas la gracia de Dios no descendió sobre mí. Las muestras de amor que hice a mis hermanos las tuvieron por fingimiento. Y he aquí que la soledad oscureció mi camino.
El ermitaño le besó tres veces en la frente; una leve sonrisa alumbró su semblante, y dijo:
-Encubre a tus hermanos el amor que les tengas y disimula tus pasiones ante los hombres, porque eres, hijo mío, un mal actor de tus emociones.

Source: http://es.geocities.com/silviafpriego/mal_actor_de_sus_emociones.htm

Comments

Anonymous said…
i truthfully adore all your writing kind, very charming,
don't quit as well as keep writing as it simply just nicely to look through it,
impatient to find out much of your own content, goodbye :)

Popular posts from this blog

Contos: "O engraçado arrependido" de Monteiro Lobato

Monteiro Lobato conta em "O engraçado arrependido" a história trágica de um homem que não consegue se livrar do papel de palhaço da cidade, papel que interpretou com maestria durante 32 anos na sua cidade interiorana. Pontes é um artista, um gênio da comédia e por motives de espaço coloco aqui só o miolo da introdução em que o narrador descreve o ser humano como “o animal que ri” e descreve a arte do protagonista: "Em todos os gestos e modos, como no andar, no ler, no comer, nas ações mais triviais da vida, o raio do homem diferençava-se dos demais no sentido de amolecá-los prodigiosamente. E chegou a ponto de que escusava abrir a boca ou esboçar um gesto para que se torcesse em risos a humanidade. Bastava sua presença. Mal o avistavam, já as caras refloriam; se fazia um gesto, espirravam risos; se abria a boca, espigaitavam-se uns, outros afrouxavam os coses, terceiros desabotoavam os coletes. E se entreabria o bico, Nossa Senhora! eram cascalhadas, eram rinchavelhos, e...

Poema meu: Saudades da Aldeia desde New Haven

Todas as cartas de amor são Ridículas. Álvaro Campos O Tietê é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia, mas o Tietê não é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia porque não corre minha aldeia. Poucos sabem para onde vai e donde vem o ribeirão da minha aldeia, 
 que pertence a menos gente 
 mas nem por isso é mais livre ou menos sujo. O ribeirão da minha aldeia 
 foi sepultado num túmulo de pedra para não ferir os olhos nem molhar os inventários da implacável boa gente da minha aldeia, mas, para aqueles que vêem em tudo o que lá não está, 
 a memória é o que há para além do riberão da minha aldeia e é a fortuna daqueles que a sabem encontrar. Não penso em mais nada na miséria desse inverno gelado estou agora de novo em pé sobre o ribeirão da minha aldeia.

Uma gota de fenomenologia

Esse texto é uma homenagem aos milhares de livrinhos fininhos que se propõem a explicar em 50 páginas qualquer coisa, do Marxismo ao machismo e de Bakhtin a Bakunin: Uma gota de fenomenologia Uma coisa é a coisa que a gente vive nos ossos, nos nervos, na carne e na pele; aquilo que chega e esfria ou esquenta o sangue do caboclo. Outra coisa bem outra é assistir essa mesma coisa, mais ou menos de longe. Nem a mãe de um caboclo que passa fome sabe o que é passar fome do jeito que o caboclo que passa fome sabe. A mãe sabe outra coisa, que é o que é ser mãe de um caboclo que passa fome. Isso nem o caboclo sabe: o que ela sabe é dela só, diferente do caboclo e diferente do médico que recebe o tal caboclo e a mãe dele no hospital. O médico sabe da fome do cabloco de um outro jeito porque ele já ficou mais longe daquela fome um tanto mais que a mãe e outro tanto bem mais que o caboclo. O jeito que o médico sabe da fome daquele caboclo pode ser mais ou menos só dele ainda, mas isso só se ele p...