O mote:
“Historicamente ligado à academia, o jornalismo cultural brasileiro durante muitas décadas foi feito exclusivamente de (e para) doutores, que utilizavam as páginas dos jornais para falar de suas teses a respeito de determinado autor ou livro. Para isso dispunham de espaço quase que ilimitado, totalmente fora dos padrões do jornalismo atual, onde o número de caracteres (toques) de cada texto é rigorosamente calculado e perde cada vez mais espaço para a publicidade. A linguagem acadêmica dos textos, por vezes hermética, era também um fator que afastava o leitor "comum" dos suplementos de cultura, tornando o espaço um nicho exclusivo de letrados. Símbolo de ruptura desse modelo, o caderno "Mais!", lançado em 1992 pela Folha de São Paulo, rompeu com o formato acadêmico dos suplementos, que desde os anos 1950 — época em que surgia a "Ilustrada" —, eram feitos exclusivamente por gente da academia. Produto direto da transformação gráfica e editorial empreendida pelo "Projeto Editorial da Folha" (1985-86), o "Mais!" substituiu o "Folhetim", caderno dominical que circulou até 1989 e que mantinha características dos primeiros suplementos: poucas fotos, predominância do preto-e-branco, projeto gráfico sofrível e textos longuíssimos, que não raras vezes preenchiam todo o espaço físico do jornal, de ponta a ponta.
O "Mais!" apostou em um jornalismo leve, que além de literatura contemplasse outros temas como sociologia, antropologia, história e artes plásticas. Tudo isso em textos enxutos — quando comparados aos cadernos anteriores — que dessem cabo à diversidade de opiniões. Os acadêmicos passaram então a dividir espaço com escritores, repórteres e críticos desvinculados das universidades, tendo que adaptar seus textos a um novo padrão, bem menos denso e mais acessível do ponto de vista da linguagem.”
O texto integral [de Luis Rebinski Júnior] se encontra em http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp?codigo=2439
A glosa:
Vou tentar ser “conciso”, “rápido“ e “fácil”:
1. Quem é esse leitor “comum” que parece ser compreendido como o oposto desse outro ser misterioso, o “letrado”? O sujeito que lê o caderno de cultura afinal de contas não é mais letrado? Então para quê ele lê o caderno de cultura?
2. Um texto “menos denso” é o quê? Menos idéias por centímetro quadrado de papel? A falta de densidade não parece uma perda do tal precioso e escasso tempo desses curiosos leitores “comuns”?
3. E o tal novo texto além de ter que ser “conciso”, precisa também ser “menos denso”…
Um texto “conciso” e “menos denso” é o equivalente para mim a uma sopa bem aguada servida numa taça de café. Esse jornalismo cultural “mais acessível”, “de leitura fácil e rápida”, não passa de um engodo de gente que se acha inteligente e culta, mas não tem tempo para ler nem o caderno de cultura do domingo, quanto mais um livro inteiro quanto mais uma mísera dúzia de livros por ano.
Obs. Nada tenho contra o Rebinski, que escreveu um artigo informativo sobre o assunto. Fico ainda sem saber qual é a opinião pessoal dele sobre o assunto. A minha opinião [é preciso ser mais claro talvez] é que nem antes nem agora os suplementos de cultura estavam ao nível da cultura brasileira, mas agora eles são ainda piores.
“Historicamente ligado à academia, o jornalismo cultural brasileiro durante muitas décadas foi feito exclusivamente de (e para) doutores, que utilizavam as páginas dos jornais para falar de suas teses a respeito de determinado autor ou livro. Para isso dispunham de espaço quase que ilimitado, totalmente fora dos padrões do jornalismo atual, onde o número de caracteres (toques) de cada texto é rigorosamente calculado e perde cada vez mais espaço para a publicidade. A linguagem acadêmica dos textos, por vezes hermética, era também um fator que afastava o leitor "comum" dos suplementos de cultura, tornando o espaço um nicho exclusivo de letrados. Símbolo de ruptura desse modelo, o caderno "Mais!", lançado em 1992 pela Folha de São Paulo, rompeu com o formato acadêmico dos suplementos, que desde os anos 1950 — época em que surgia a "Ilustrada" —, eram feitos exclusivamente por gente da academia. Produto direto da transformação gráfica e editorial empreendida pelo "Projeto Editorial da Folha" (1985-86), o "Mais!" substituiu o "Folhetim", caderno dominical que circulou até 1989 e que mantinha características dos primeiros suplementos: poucas fotos, predominância do preto-e-branco, projeto gráfico sofrível e textos longuíssimos, que não raras vezes preenchiam todo o espaço físico do jornal, de ponta a ponta.
O "Mais!" apostou em um jornalismo leve, que além de literatura contemplasse outros temas como sociologia, antropologia, história e artes plásticas. Tudo isso em textos enxutos — quando comparados aos cadernos anteriores — que dessem cabo à diversidade de opiniões. Os acadêmicos passaram então a dividir espaço com escritores, repórteres e críticos desvinculados das universidades, tendo que adaptar seus textos a um novo padrão, bem menos denso e mais acessível do ponto de vista da linguagem.”
O texto integral [de Luis Rebinski Júnior] se encontra em http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp?codigo=2439
A glosa:
Vou tentar ser “conciso”, “rápido“ e “fácil”:
1. Quem é esse leitor “comum” que parece ser compreendido como o oposto desse outro ser misterioso, o “letrado”? O sujeito que lê o caderno de cultura afinal de contas não é mais letrado? Então para quê ele lê o caderno de cultura?
2. Um texto “menos denso” é o quê? Menos idéias por centímetro quadrado de papel? A falta de densidade não parece uma perda do tal precioso e escasso tempo desses curiosos leitores “comuns”?
3. E o tal novo texto além de ter que ser “conciso”, precisa também ser “menos denso”…
Um texto “conciso” e “menos denso” é o equivalente para mim a uma sopa bem aguada servida numa taça de café. Esse jornalismo cultural “mais acessível”, “de leitura fácil e rápida”, não passa de um engodo de gente que se acha inteligente e culta, mas não tem tempo para ler nem o caderno de cultura do domingo, quanto mais um livro inteiro quanto mais uma mísera dúzia de livros por ano.
Obs. Nada tenho contra o Rebinski, que escreveu um artigo informativo sobre o assunto. Fico ainda sem saber qual é a opinião pessoal dele sobre o assunto. A minha opinião [é preciso ser mais claro talvez] é que nem antes nem agora os suplementos de cultura estavam ao nível da cultura brasileira, mas agora eles são ainda piores.
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