Para tentar ler alguma coisa por pura diversão resolvi pegar um audio-livro [em um punhado de CDs] e colocar no i-pod de Letícia e "escutar" um livro nos momentos em que caminho sozinho [geralmente depois de deixar meu filho na escola]. O livro que escolhi foi Musicophilia de Oliver Sacks - já tinha lido "O homem que confundiu sua mulher com um chapéu" no meu curso de graduação. Oliver Sacks é neurologista mas escreve muito bem, seus casos médicos são verdadeiros contos. Retardados que sabem de cor as melodias e harmonias de mais de 200 óperas, um sujeito que é atingido por um raio e fica absolutamente louco com música, um músico que sofre um derrame e não consegue mais reconhecer um piano afinado de um completamente desafinado, etc. No livro ele se concentra na audição, particularmente a relação que nós humanos temos com a mais abstrata das artes.
Monteiro Lobato conta em "O engraçado arrependido" a história trágica de um homem que não consegue se livrar do papel de palhaço da cidade, papel que interpretou com maestria durante 32 anos na sua cidade interiorana. Pontes é um artista, um gênio da comédia e por motives de espaço coloco aqui só o miolo da introdução em que o narrador descreve o ser humano como “o animal que ri” e descreve a arte do protagonista: "Em todos os gestos e modos, como no andar, no ler, no comer, nas ações mais triviais da vida, o raio do homem diferençava-se dos demais no sentido de amolecá-los prodigiosamente. E chegou a ponto de que escusava abrir a boca ou esboçar um gesto para que se torcesse em risos a humanidade. Bastava sua presença. Mal o avistavam, já as caras refloriam; se fazia um gesto, espirravam risos; se abria a boca, espigaitavam-se uns, outros afrouxavam os coses, terceiros desabotoavam os coletes. E se entreabria o bico, Nossa Senhora! eram cascalhadas, eram rinchavelhos, e...
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