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Fitzgerald e Hollywood


Scott Fitzgerald era o rei da cocada literária nos anos 20 nos Estados Unidos. Mas aí chegaram os anos 30 e parecia que ninguém mais queria saber dele ou que ele não conseguia escrever mais nada que chamasse a atenção. Sem um tostão no bolso e com a mulher internada num sanatório, Fitzgerald vai para Hollywood em 1937. Não brinca em serviço, ele. Estuda minuciosamente filmes que tinham feito sucesso na época, como “A Star is Born”. Já no primeiro trabalho vêm as decepções: depois de uma primeira revisão a produção impõe que Fitzgerald trabalhe com outro roteirista e meses depois o trabalho o produtor do filme, ainda insatisfeito, resolve fazer várias outras modificações. Esse sistema de “linha de montagem” para scripts tinha sido criado nos anos 20 por um executivo prodígio, Irving Thalberg: várias equipes de escritores revisando e modificando o script até que ele chegue à forma final. Fitzgerald ficou furioso com as mudanças nos diálogos e escreveu uma carta quase desesperada ao produtor:
"To say I'm disillusioned is putting it mildly," Fitzgerald continued. "For 19 years, with two years out for sickness, I've written best-selling entertainment, and my dialogue is supposedly right up at top. But I learn from the script that you've suddenly decided that it isn't good dialogue and you can take a few cuts off and do much better. I am utterly miserable at seeing months of work and thought negated in one hasty week. I hope you’re big enough to take this letter as it’s meant – a desperate plea to restore the dialogue to its former quality…. Oh, Joe, can’t producers ever be wrong? I’m a good writer – honest."
Os diálogos não foram restaurados e “Three Comrades” foi considerado um dos 10 melhores filmes do ano. Por conta do sucesso Fitzgerald ganhou um aumento, mas continuava decepcionado:
“I am now considered a success in Hollywood because something which I did not write is going on my name, and something which I did write has been quietly buried without fuss or row – not even a squeak from me. The change from regarding this as a potential art to looking at it as a cynical business has begun. But I still think that some time during my stay out here I will be able to get something of my own on the screen that I can ask my friends to see.”

Comments

bem, nada mudou. ao menos por aqui o método ainda é o mesmo.
O discurso dos críticos tende a menosprezar o trabalho de escritores como Fitzgerald e Faulkner em Hollywwod porque eles teriam feito aquele trabalho "apenas por dinheiro". É como se o resto todo que eles fizeram não tivesse sido feito também com o intuito de ganhar a vida escrevendo. Agora os dois se ressentiam do papel bem circunscrito que eles tinham na indústria que é o cinema. Os roteiros do Fitzgerald que eu vi eram extremamente detalhados, cheios de explicações, meio como se ele quisesse uma fatia maior do trabalho do filme do que a que era reservada para ele e também como se ele quisesse que o filme tivesse a capacidade de descrever sentimentos e pensamentos com a minúcia e a articulação da literatura. O triste no caso de Fitzgerald é que ele queria muito conseguir sucesso como roteirsta em Hollywood.
sabina said…
interessante. esses roteiros foram publicados, estão em bibliotecas?
Os manuscritos foram comprados pela Universidade da Carolina do Sul. Eles foram "salvos" dos arquivos mortos da MGM por um sujeito que trabalhava la e ficaram com ele mais de 10 anos, acho. A New Yorker de 16 de novembro tem um artigo sobre eles: http://www.newyorker.com/reporting/2009/11/16/091116fa_fact_krystal
sabina said…
que bacana.

há alguns filmes brasileiros antigos da cinemateca que também foram salvos de um exibidor, no momento em que ele jogava as cópias no lixo.

a história é verdadeira, mas não sei os detalhes.

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