Skip to main content

Um exemplo de frase faulkneriana


Faulkner escreveu um ensaio chamado "Mississippi" em que se misturam autobiografia, história e ficção. Desse ensaio tirei uma frase faulkeneriana e traduzi para o português:
The Anglo-Saxon, who would stay, to endure: the tall man roaring with Protestant scripture and boiled whiskey, Bible and jug in one hand and like as not an Indian tomahawk in the other, brawling, turbulent, uxorious and polygamous: a married invincible bachelor without destination but only motion, advancement, dragging his gravid wife and most of his mother-in-law’s kin behind him into the trackless wilderness, to spawn that child behind a log-crotched rifle and then get her with another one before they moved again, and at the same time scattering his inexhaustible other seed in three hundred miles of dusky bellies: without avarice or compassion or forethought either: felling a tree which took two thousand years to grow, to extract from it a bear or a capful of wild honey. (Essays, Speeches, and Public Letters, 14)
[O anglo-saxão, que permaneceria, para persistir: o tall man rugindo com as suas escrituras protestantes e o seu whisky fervido, Bíblia e jarro numa mão e possivelmente uma machadinha índia na outra, pelejando alto, turbulentos, uxório e polígamo: um invencível solteiro casado sem destino mas provido apenas de movimento, avanço, arrastando sua esposa grávida e a maioria da família da sogra atrás de si para a mata fechada, para desovar aquele filho debaixo de um rifle e engravidá-la com outro antes de se mudar outra vez, e ao mesmo tempo espalhando sua semente incansável em trezentas milhas de barrigas morenas: sem avareza nem compaixão nem planejamento; derrubando uma árvore que levou trezentos anos para crescer para arrancar de lá um urso ou uma colméia cheia de mel selvagem.]

Comments

sabina said…
gostei do texto abaixo e entendi algo pela frase de exemplo.

mas acho que ele nunca seria meu escritor preferido. mesmo proust, que antes me seduzia com suas frases longas, hoje me cansa um pouco.

e as frases do proust são mais modestas, acho. longas, porém claras.
Faulkner, com essa estética do excesso, não tem meio termo: ou ele é genial ou abominável. Foi nesse sentido que ele uma vez chamou Hemingway [o oposto disso tudo] de um escritor "covarde". A estética da contenção é mais segura - mesmo porque um livro chato de 100 páginas e mais tolerável que um livro chato de 800!
sabina said…
bem, a contenção radical não é mais segura. o texto pode ser considerado frio, distante, etc.

Popular posts from this blog

Diário do Império - Antenado com a minha casa [BH]

Acompanho a vida no Brasil antes de tudo pela internet, um "lugar" estranho em que a [para mim tenebrosa] classe m é dia brasileira reina soberana, quase absoluta, com seus complexos, suas mediocridades e sua agressividade... Um conhecido, daqueles que ao inv és de ter um blogue que a gente visita quando quer, prefere um papel mais ativo, mandando suas "id éias" para os outros por e-mail, me enviou o texto abaixo, que eu vou comentar o mais sucintamente possível: resolvi a partir de amanh ã fazer um esforço e tentar, al ém do blogue, onde expresso minhas "id éias" passivamente, tentar me comunicar diretamente com as pessoas por carta... OS ALUNOS DE UNIVERSIDADES PARTICULARES DERAM UMA RESPOSTA; E A BRIGA CONTINUOU ... 1 - PROVOCAÇÃO INICIAL Estudar na PUC:............... R$ 1.200,00 Estudar no PITÁGORAS:..........R$ 1.000,00 Estudar na NEWTON:.....R$ 900,00 Estudar na FUMEC:............ R$600,00 Estudar na UNI-BH:........... R$ 550,00 Estudar na

Uma gota de fenomenologia

Esse texto é uma homenagem aos milhares de livrinhos fininhos que se propõem a explicar em 50 páginas qualquer coisa, do Marxismo ao machismo e de Bakhtin a Bakunin: Uma gota de fenomenologia Uma coisa é a coisa que a gente vive nos ossos, nos nervos, na carne e na pele; aquilo que chega e esfria ou esquenta o sangue do caboclo. Outra coisa bem outra é assistir essa mesma coisa, mais ou menos de longe. Nem a mãe de um caboclo que passa fome sabe o que é passar fome do jeito que o caboclo que passa fome sabe. A mãe sabe outra coisa, que é o que é ser mãe de um caboclo que passa fome. Isso nem o caboclo sabe: o que ela sabe é dela só, diferente do caboclo e diferente do médico que recebe o tal caboclo e a mãe dele no hospital. O médico sabe da fome do cabloco de um outro jeito porque ele já ficou mais longe daquela fome um tanto mais que a mãe e outro tanto bem mais que o caboclo. O jeito que o médico sabe da fome daquele caboclo pode ser mais ou menos só dele ainda, mas isso só se ele p

Protestantes e evangélicos no Brasil

1.      O crescimento dos protestantes no Brasil é realmente impressionante, saindo de uma pequena minoria para quase um quarto da população em 30 anos: 1980: 6,6% 1991: 9% 2000: 15,4%, 26,2 milhões 2010: 22,2%, 42,3 milhões   Há mais evangélicos no Brasil do que nos Estados Unidos: são 22,37 milhões da população e mais ou menos a metade desses pertencem à mesma igreja.  Você sabe qual é? 2.      Costuma-se, por ignorância ou má vontade, a dar um destaque exagerado a Igreja Universal do Reino de Deus e ao seu líder, Edir Macedo. A IURD nunca representou mais que 15% dos evangélicos e menos de 10% dos protestantes como um todo. Além disso, a IURD diminuiu seu número de fiéis   nos últimos 10 anos de acordo com o censo do IBGE, ao contrário de outras denominações, que já eram bem maiores. 3.      Os jornalistas dos jornalões, acostumados com a rígida hierarquia institucional católica não conseguem [ou não tentam] entender muito o sistema