1. A ONU, a OEA e mesmo o Carter Center [ONG do ex-presidente Jimmy Carter] não enviaram equipes de fiscalização para as eleições em Honduras porque não reconheciam a convocação de eleições por um governo golpista.
2. Sem essa fiscalização externa formal tradicional, as eleições foram monitoradas por duas ONGs dos Estados Unidos, o International Republican Institute (IRI), de extrema-direita, e o National Democratic Institute (NDI), digamos que de centro-direita; ambas financiadas principalmente pelo dinheiro do USAID (the United States Agency for International Development) do governo norte-americano.
3. Isso, claro, além do TSE de Honduras, que apoiava claramente o golpe. Poucos dias antes da eleição, 90 membros do TSE de Honduras pediram demissão em protesto contra o apoio do tribunal ao regime no poder.
4. O TSE de Honduras inicialmente anunciou a participação de 62% dos eleitores – informação crucial para a legitimação internacional do regime. Nesse sentido, o porta-voz do ministério de relações exteriores dos Estados Unidos declarou naquele mesmo dia:
“Turnout appears to have exceeded that of the last presidential election. This shows that given the opportunity to express themselves, the Honduran people have viewed the election as an important part of the solution to the political crisis in their country.”
5. No noite do dia da eleição o grupo hondurenho Hagamos Democracia [um consórcio de ONGs apoiado pelos Estados Unidos indiretamente através do NDI] enviou ao TSE relatório com uma estimativa de apenas 48.7% de participação do eleitorado.
6. Ainda que o TSE tenha então revisado seus números oficiais para 49% [virtualmente o número oferecido pelo Hagamos Democracia], o primeiro informe já tinha sido usado pela mídia internacional e pelo governo dos Estados Unidos como prova de que as eleições tinham sido livres e democráticas.
7. No anúncio oficial do resultado das eleições, o TSE de Honduras declarou que 1.7 milhões de votos tinham sido contados, o equivalente a 34% do eleitorado, o mais baixo nível de participação de eleitores na história de Honduras. Os 54% de votos para o candidato Porfirio Lobo, portanto, equivalem a 19% do eleitorado do país.
8. Nada disso deveria ser exatamente uma surpresa para um brasileiro minimamente informado. Mas e se o brasileiro minimamente informado só lê os principais jornais e revistas brasileiros? Poderíamos chamá-lo talvez de “brasileiro minimamente desinformado”?
9. Digo que não deveria ser uma surpresa aqui porque, afinal, a ditadura militar brasileira realizou eleições regularmente, eleições sempre reconhecidas pelo governo dos Estados Unidos. E pela maioria dos principais jornais e revistas do Brasil.
10. A luta do regime de Honduras por legitimidade é mais ou menos igual àquela luta da ditadura militar por legitimadade. Os tempos é que são outros. Bom, mais ou menos…
[Minha fonte principal aqui foi um informe do Council on Hemispheric Affairs [COHA]. Quem se interessa pela América Latina pode receber deles informes periódicos por email. O relatório sobre as eleições de Honduras está no http://www.coha.org/honduran-election-results-still-need-to-be-scrutinized-state-department-dashes-hopes-that-a-transformative-latin-america-policy-has-been-born/].
2. Sem essa fiscalização externa formal tradicional, as eleições foram monitoradas por duas ONGs dos Estados Unidos, o International Republican Institute (IRI), de extrema-direita, e o National Democratic Institute (NDI), digamos que de centro-direita; ambas financiadas principalmente pelo dinheiro do USAID (the United States Agency for International Development) do governo norte-americano.
3. Isso, claro, além do TSE de Honduras, que apoiava claramente o golpe. Poucos dias antes da eleição, 90 membros do TSE de Honduras pediram demissão em protesto contra o apoio do tribunal ao regime no poder.
4. O TSE de Honduras inicialmente anunciou a participação de 62% dos eleitores – informação crucial para a legitimação internacional do regime. Nesse sentido, o porta-voz do ministério de relações exteriores dos Estados Unidos declarou naquele mesmo dia:
“Turnout appears to have exceeded that of the last presidential election. This shows that given the opportunity to express themselves, the Honduran people have viewed the election as an important part of the solution to the political crisis in their country.”
5. No noite do dia da eleição o grupo hondurenho Hagamos Democracia [um consórcio de ONGs apoiado pelos Estados Unidos indiretamente através do NDI] enviou ao TSE relatório com uma estimativa de apenas 48.7% de participação do eleitorado.
6. Ainda que o TSE tenha então revisado seus números oficiais para 49% [virtualmente o número oferecido pelo Hagamos Democracia], o primeiro informe já tinha sido usado pela mídia internacional e pelo governo dos Estados Unidos como prova de que as eleições tinham sido livres e democráticas.
7. No anúncio oficial do resultado das eleições, o TSE de Honduras declarou que 1.7 milhões de votos tinham sido contados, o equivalente a 34% do eleitorado, o mais baixo nível de participação de eleitores na história de Honduras. Os 54% de votos para o candidato Porfirio Lobo, portanto, equivalem a 19% do eleitorado do país.
8. Nada disso deveria ser exatamente uma surpresa para um brasileiro minimamente informado. Mas e se o brasileiro minimamente informado só lê os principais jornais e revistas brasileiros? Poderíamos chamá-lo talvez de “brasileiro minimamente desinformado”?
9. Digo que não deveria ser uma surpresa aqui porque, afinal, a ditadura militar brasileira realizou eleições regularmente, eleições sempre reconhecidas pelo governo dos Estados Unidos. E pela maioria dos principais jornais e revistas do Brasil.
10. A luta do regime de Honduras por legitimidade é mais ou menos igual àquela luta da ditadura militar por legitimadade. Os tempos é que são outros. Bom, mais ou menos…
[Minha fonte principal aqui foi um informe do Council on Hemispheric Affairs [COHA]. Quem se interessa pela América Latina pode receber deles informes periódicos por email. O relatório sobre as eleições de Honduras está no http://www.coha.org/honduran-election-results-still-need-to-be-scrutinized-state-department-dashes-hopes-that-a-transformative-latin-america-policy-has-been-born/].
Comments
aliás, você viu a piadinha? depois dos barreto lançarem o filme "lula, o filho do brasil", agora vão lançar "zelaya, o filho adotivo do brasil"!
péssima... rs.