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Missão Impossível: desarmar patrulhas num matagal de mal-entendidos - Parte II

Foto: Poeta Vanguardista Ted Boy Marino é agredido covardemente por defensor do soneto parnasiano.

II

Agora vamos tentar abrir a tal picada num matagal de mal-entendidos. Não quero que me confundam com alguém que faz um discurso anti-crítico – afinal de contas eu sou professor e pesquisador de literatura. E esclareço que trata-se muito menos ainda de construir um discurso igual com o sinal invertido, ou seja, de montar uma patrulha crítica oposta que vai combater seus inimigos em mais uma briga de bar. Haroldo e Augusto de Campos deram contribuições importantíssimas à critica brasileira, não enquanto voavam as garrafas e cadeiras do bar, mas quando não estavam preocupados demais em ser cabotinos e fizeram revisões importantes de outros autores [por mais que se possa fazer reparos a elas] e traduções importantes [os dois tinham o espírito suficientemente generoso para não se deixar afogar no cabotinismo típico do discurso das vanguardas] e escreveram boa poesia. E finalmente também não é questão de pregar uma crítica boazinha que só fala bem de tudo ou que simplesmente se cala quando não gosta de alguma coisa. Dou um exemplo recente: quando Luiz Costa Lima escreveu uma critica forte contra a obra de Piva como um todo, concorde-se ou não com seus pontos de vista, não havia qualquer ranço dessa postura patrulheira. Costa Lima não estava dizendo: “precisamos combater sem tréguas Piva e sua poesia nociva aos interesses da cultura e literatura nacionais, pois todo o poeta que quer escrever versos desse jeito escreve maus versos”. Simplesmente Costa Lima acha – pelo menos na minha leitura do seu artigo – que, dentro do que se propõe a fazer, Piva se equivoca, não realiza o que pretende. Aos conspiratórios que já devem estar preparando uma risada sarcástica para a minha ignorância sobre o ódio ou amor entre os dois ou pior para me acusar de ser um “Pivista” hipócrita ou “Costa Limeiro” traiçoeiro, aviso que eu não tenho a menor idéia das relações pessoais amistosas ou não de Piva e Costa Lima e francamente não me interessa absolutamente. [Talvez por uma dose diária excessiva de novelas, nós brasileiros temos essa tendência de explicar os conflitos através do melodrama Udenista dizendo: “ora, todo mundo sabe que o Costa Lima detesta o Piva desde que recebeu uma carta anônima sobre os gêmeos trocados na maternidade e soube da falsificação das ações da fábrica de cimento no testamento forjado de Pantagruel Pimenta e, claro, das falcatruas com o dinheiro público – político não presta mesmo”.

Comments

Anonymous said…
E os poetas, prestam?
(to be continued)
Eu sou daqueles que acha que se vc pensa que ninguém presta para nada, vc precisa de óculos. Mas também não sou do tipo otimista que acha que todo muito presta para alguma coisa. Às vezes a gente é forçado a escolher aquele que "não presta menos"... E às vezes a gente nem tem ecolha. De qualquer jeito, tem gente que não presta mesmo - mas infelizmente ou felizmente não são assim tão facilmente identificáveis...
Anonymous said…
Essa minha pergunta ficava linda como título pra um post. Então, como eu ando evitando postagens por estes dias, fico comentando coisas assim desconexas.
Concordo com vc e poderia escrever um monte de coisas para provar que concordo e que estamos certos. Mas meu mundinho é bastante pequeno e, sendo assim, reprimo alguns comentários mais mordazes. Isto porque falo muita besteira tb quando empolgo. E tb falo muito quando empolgo.
Mudando de pau pra cavaco, uma vez eu fiz uma postagenzinha (ficou estranha essa sufixação), daquelas ordinárias que eu fazia, que era assim:

Amor de poeta deixa de ser e vira poesia.


Nada a ver com nada do que vc disse. Mas é que hoje eu estou para livres associações.

Beijos
No fundo quase todo mundo - os falantes e os nem tanto - vive num mundinho mesmo pequeno. A culpa não é do mundo; é da gente mesmo.
Adorei o final do seu comentário (melodramas udenistas). Realmente, já fui corrigida várias vezes ao mencionar um artista ou intelectual qualquer, e um professor mais velho dizia: "mas fulano delatou sicrano" e etc.

Já quanto ao Piva, não gosto. Talvez comparado a outros contemporâneos e mais recentes, pareça melhor do que é.

Aliás, quando estava na graduação participei de uma tremenda roubada, quando uns colegas resolveram levá-lo a um "lugar de poder" na serra da Cantareira.
Vale a pena ler a crítica do Costa Lima, que aliás é um dos poucos críticos que ainda escreve resenhas sobre poesia contemporânea sistematicamente.

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