I
Há dez anos atrás eu cheguei à Califórnia para estudar na Universidade da Califórina em Santa Barbara. Eram praias lindas e montanhas deslumbrantes num clima tão ameno que nunca fazia calor nem frio demais e quase nunca chovia – só uma suave garoa à noite deixava as plantas molhadas de manhã cedo.
Eu morava bem perto de uma praia vazia toda pontilhada por fiordes, sem acesso nenhum por automóvel – nem nome essa praia tinha, que eu saiba. Logo nos primeiros dias descobrimos como chegar à tal praia e eu todo animado fui caminhar na areia descalço. O ruim de não fazer calor demais é que quando bate um vento fica meio frio na praia. Quase não dá quase para nadar e é melhor levar uma blusa de manga comprida. Caminhamos mais um pouco e resolvemos voltar para casa por causa do frio.
Na volta reparei uns pontinhos pretos minúsculos espalhados na areia molhada e peguei um deles. Seria um bichinho? O negócio grudou nos meus dedos. Eu arrancava da mão direita e ele colava nos dedos da mão esquerda. Eu sacudia com força e o danado não caía no chão. Raspei o dedo numa pedra e ainda um pouco sujo continuei caminhando. Na saída da praia fui colocar o sapato e notei que a sola do meu pé estava toda cheia daqueles pontinhos pretos, formando quase uma sola extra e não conseguia tirar o troço com nem raspando o pé na pedra nem com um pedaço de madeira. Voltei para casa descalço arrastando o pé pela trilha de terra batida e depois pela calçada da minha rua e nada de sair. Cheguei em casa e tentei limpar o pé no capacho e depois com água na banheira e nada. Tentei raspar o negócio com uma colher e nada. Tentei com uma faca e nada. Depois aprendi que aquele troço só saía do pé com óleo de cozinha e mesmo assim com um certo custo e que por isso era melhor andar naquela praia de sapato ou pelo menos chinelo.
Comments