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Escavando notas


O trecho que usei para o postal de ontem vem dessa passagem de um texto curto de Cruz e Souza sobre o piano [“Piano e coração"]:

“Quando o piano musicaliza, caracteriza, espiritualiza as longas escalas cromáticas, os adoráveis allegros, os interessantes pizzicatos, quem fala primeiro que os cérebros artísticos é o coração.
Ele canta mais alto que todos os órgãos humanos
O coração é o pulso do cérebro artístico.
Pela temperatura e o grau de sentimento de um, o músico estabelece a proporção
do outro.
Um dirige, outro executa.
Um tem a fórmula, outro funciona.
Um é o oxigênio, outro o carvão.
Um faz o relâmpago, outro produz o raio.
Coração e cérebro aliam-se, homogeneízam-se.
Assim o piano, eternamente assim.”

As pessoas tendem a desgostar desse tipo de prosa pelo seu “excesso” de adjetivos e advérbios [os “adoráveis” e “interessantes” e “eternamentes” da vida]. Também pelo tom emotivo com que a voz se apresenta, sem ironias, ao leitor. 22 é quase um reflexo condicionado nas letras brasileiras, inclusive com seus próprios maneirismos. É uma pena.

Comments

Sabe que O Assinalado foi meu poema preferido durante toda a adolescência? Eu nunca contava pra ninguém porque me sentia traindo o Drummond e porque daria pistas da minha megalomania sentimental, saca? rs.
Eu tbm li Drummond de cabo a rabo e adoro, Tata. Mas é impressionante o preconceito que as pessoas até hoje tem com quase tudo o que foi escrito antes de 1922, como se o Brasil vivesse nas trevas da ignorância até a Semana de Arte Moderna.

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