O trecho que usei para o postal de ontem vem dessa
passagem de um texto curto de Cruz e Souza sobre o piano [“Piano e
coração"]:
“Quando o piano musicaliza,
caracteriza, espiritualiza as longas escalas cromáticas, os adoráveis allegros,
os interessantes pizzicatos, quem fala primeiro que os cérebros artísticos é o
coração.
Ele canta mais alto que todos os
órgãos humanos
O coração é o pulso do cérebro
artístico.
Pela temperatura e o grau de
sentimento de um, o músico estabelece a proporção
do outro.
Um dirige, outro executa.
Um tem a fórmula, outro funciona.
Um é o oxigênio, outro o carvão.
Um faz o relâmpago, outro produz
o raio.
Coração e cérebro aliam-se,
homogeneízam-se.
Assim o piano, eternamente
assim.”
As pessoas tendem a desgostar desse tipo de prosa
pelo seu “excesso” de adjetivos e advérbios [os “adoráveis” e “interessantes” e
“eternamentes” da vida]. Também pelo tom emotivo com que a voz se apresenta,
sem ironias, ao leitor. 22 é quase um reflexo condicionado nas letras brasileiras, inclusive com seus próprios maneirismos. É uma pena.
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