“Vi todo o mistério da arte, em
sua expressão mais simples e direta, numa fábrica de Talavera de Puebla.
Acurvado sobre o torno
primitivo, o ‘alfarero’ é um transfigurador. Como no Gênese, ao seu comando
anima-se a argamassa e a ordem domina a matéria. Na argila macia, pegajosa e
informe, correm-lhe os dedos sábios. Ao impulso do pé ligeiro, roda o torno, e
o artista, secundado por esse movimento inicial, cria o Universo do caos.
Cilindros, pirâmides, esferas, surgem e
desaparecem, no côncavo das suas mãos; as linhas se recurvam ou se distendem,
alongam-se, interrompem-se, unem-se e, num relâmpago, nascem vasos de colos
esguios, candelabros, jarras e copas de esquisito feitio.
Cantava no torno o
esteta e, no fogo dos fornos crepitantes, cantava também a terra, a mesma terra que, antes, era poeira e
rolava na pata dos animais, e agora seria cântaro para a boca fresca e lasciva
da índia de ventre fecundo. Cantava o homem porque se unira à terra, e cantava a terra porque voltava das mãos do
seu criador para o milagre de um monumento de perfeição.
Ronald de Carvalho, Imagens do México
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