Jean-Jacques Rousseau |
Joaquim Maria Machado de Assis |
O original em francês não tem nada demais:
"Le remords s'endort devant un destin prospère, et s'aigrit dans l'adversité."
Em português seria mais ou menos algo assim:
"O remorso adormece ante um destino próspero, e se amargura na adversidade"
Mas a tradução para o inglês "corrige" o original, estabelecendo na frase um sentido de simetria ausente do original que eu acho uma beleza:
"remorse sleeps in the calm sunshine of prosperity, but wakes amid the storms of adversity"
E em português a tradução da tradução para o inglês seria algo assim:
"O remorso dorme sob a serena luz solar da prosperidade, mas acorda em meio às tempestades da adversidade."
A tradução inglesa é um pouco "over-the-top" e poderia ser um pouquinho menos floreada para ficar assim [e de passagem restaurando o "e" ao invés do "mas"]:
"O remorso dorme sob a luz da prosperidade, e acorda com as tempestades da adversidade."
É nessa eloquente tradução inglesa [mais que no original] que eu encontro um "momento Machado de Assis" nas Confissões de Jean-Jacques Rousseau. Não é por nada que a tal sentença aparece na parte do livro em que Rousseau relembra seus tempos de adolescente agregado, fingindo ter se convertido ao catolicismo para conseguir trabalhar na transcrição de cartas ditadas por uma patroa já consumida por um câncer de mama terminal em meio a um frenesi de intrigas e atenções de empregados e parentes que apostam em ser contemplados no testamento da velha.
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