Skip to main content

Malavita!

Mariano Rajoy
Jacques Chirac
Helmut Kohln

Carlos Salinas de Gortari
Maluf

Berlusconi




Perry Anderson escreveu no London Review of Books um artigo que deveria ser amplamente lido e discutido no Brasil. O artigo trata de problemas supostamente europeus, mas na verdade descreve com clareza uma crise no sistema político-representativo que é, em realidade, mundial. Deixo aqui apenas um trecho:
"[...] the [European] Union is not an excrescence on member states that might otherwise be healthy enough. It reflects, as much as it deepens, long-term trends within them. At national level, virtually everywhere, executives domesticate or manipulate legislatures with greater ease; parties lose members; voters lose belief that they count, as political choices narrow and promises of difference on the hustings dwindle or vanish in office.
With this generalised involution has come a pervasive corruption of the political class, a topic on which political science, talkative enough on what in the language of accountants is termed the democratic deficit of the Union, typically falls silent. The forms of this corruption have yet to find a systematic taxonomy. There is pre-electoral corruption: the funding of persons or parties from illegal sources – or legal ones – against the promise, explicit or tacit, of future favours. There is post-electoral corruption: the use of office to obtain money by malversation of revenues, or kickbacks on contracts. There is purchase of voices or votes in legislatures. There is straightforward theft from the public purse. There is faking of credentials for political gain. There is enrichment from public office after the event, as well as during or before it. The panorama of this malavita is impressive. A fresco of it could start with Helmut Kohl, ruler of Germany for sixteen years, who amassed some two million Deutschmarks in slush funds from illegal donors whose names, once he was exposed, he refused to reveal for fear of the favours they had received coming to light. Across the Rhine, Jacques Chirac, president of the French Republic for twelve years, was convicted of embezzling public funds, abuse of office and conflicts of interest, once his immunity came to an end. Neither suffered any penalty. These were the two most powerful politicians of their time in Europe. A glance at the scene since then is enough to dispel any illusion that they were unusual."
A insistência no Brasil em lidar com suas mazelas políticas como resultado de especificidades culturais do país não é só um traço peculiar de um masoquismo que, por exemplo, pode ser encontrado em Portugal ou em outros países latino-americanos. É também um tremendo ponto cego que me lembra a insistência em discutir certos problemas econômicos como exclusivamente mazelas nacionais enquanto eles afetam de forma semelhante a países diferentes como Argentina e México. A malavita de que fala Perry Anderson tem causas muito mais profundas [e sérias] do que alguma coisa que poderia se resolver com a troca de um governante ou partido por outro, justamente porque ela aponta para um esvaziamento progressivo da política, que se transforma num espetáculo que não apenas enfurece mas também oculta as forças hegemônicas que "administram" as coisas no mundo inteiro.  

Comments

Popular posts from this blog

Diário do Império - Antenado com a minha casa [BH]

Acompanho a vida no Brasil antes de tudo pela internet, um "lugar" estranho em que a [para mim tenebrosa] classe m é dia brasileira reina soberana, quase absoluta, com seus complexos, suas mediocridades e sua agressividade... Um conhecido, daqueles que ao inv és de ter um blogue que a gente visita quando quer, prefere um papel mais ativo, mandando suas "id éias" para os outros por e-mail, me enviou o texto abaixo, que eu vou comentar o mais sucintamente possível: resolvi a partir de amanh ã fazer um esforço e tentar, al ém do blogue, onde expresso minhas "id éias" passivamente, tentar me comunicar diretamente com as pessoas por carta... OS ALUNOS DE UNIVERSIDADES PARTICULARES DERAM UMA RESPOSTA; E A BRIGA CONTINUOU ... 1 - PROVOCAÇÃO INICIAL Estudar na PUC:............... R$ 1.200,00 Estudar no PITÁGORAS:..........R$ 1.000,00 Estudar na NEWTON:.....R$ 900,00 Estudar na FUMEC:............ R$600,00 Estudar na UNI-BH:........... R$ 550,00 Estudar na

Uma gota de fenomenologia

Esse texto é uma homenagem aos milhares de livrinhos fininhos que se propõem a explicar em 50 páginas qualquer coisa, do Marxismo ao machismo e de Bakhtin a Bakunin: Uma gota de fenomenologia Uma coisa é a coisa que a gente vive nos ossos, nos nervos, na carne e na pele; aquilo que chega e esfria ou esquenta o sangue do caboclo. Outra coisa bem outra é assistir essa mesma coisa, mais ou menos de longe. Nem a mãe de um caboclo que passa fome sabe o que é passar fome do jeito que o caboclo que passa fome sabe. A mãe sabe outra coisa, que é o que é ser mãe de um caboclo que passa fome. Isso nem o caboclo sabe: o que ela sabe é dela só, diferente do caboclo e diferente do médico que recebe o tal caboclo e a mãe dele no hospital. O médico sabe da fome do cabloco de um outro jeito porque ele já ficou mais longe daquela fome um tanto mais que a mãe e outro tanto bem mais que o caboclo. O jeito que o médico sabe da fome daquele caboclo pode ser mais ou menos só dele ainda, mas isso só se ele p

Protestantes e evangélicos no Brasil

1.      O crescimento dos protestantes no Brasil é realmente impressionante, saindo de uma pequena minoria para quase um quarto da população em 30 anos: 1980: 6,6% 1991: 9% 2000: 15,4%, 26,2 milhões 2010: 22,2%, 42,3 milhões   Há mais evangélicos no Brasil do que nos Estados Unidos: são 22,37 milhões da população e mais ou menos a metade desses pertencem à mesma igreja.  Você sabe qual é? 2.      Costuma-se, por ignorância ou má vontade, a dar um destaque exagerado a Igreja Universal do Reino de Deus e ao seu líder, Edir Macedo. A IURD nunca representou mais que 15% dos evangélicos e menos de 10% dos protestantes como um todo. Além disso, a IURD diminuiu seu número de fiéis   nos últimos 10 anos de acordo com o censo do IBGE, ao contrário de outras denominações, que já eram bem maiores. 3.      Os jornalistas dos jornalões, acostumados com a rígida hierarquia institucional católica não conseguem [ou não tentam] entender muito o sistema