Skip to main content

Recordar é viver: Caderno caótico de retalhos do passado


Pensem comigo: os argumentos dos promotores civis e militares de um golpe militar no Brasil, repetidos incansavelmente por mais ou menos 10 anos, desde Getúlio Vargas [antes do suicídio] até 1964, eram três, Primeiro, "o mar de lama" [e JK era talvez o mais achincalhado nesse campo por causa da farra das empreiteras em Brasília]. Segundo, o "desastre econômico" criado por coisas "absurdas" como o 13o salário, que eram vistas como formas irresponsáveis de comprar o voto popular às custas da economia do país. Finalmente, as "ameaças" à democracia, que eram basicamente três: uma "república sindicalista" [suposta aliança de Jango com Perón], uma "interferência estrangeira" cubano/soviética e a "tomada do poder pelos totalitarismo através das eleições no congresso".  Conclusão: a direita no Brasil padece de uma terrível falta de imaginação.

Eis alguns dos meus retalhos:

1. Cony, 4-6-1964:
“Uma palavra sobre a corrupção do sr. Juscelino. Afirmam os interessados que nunca se roubou tanto quanto no governo JK. Não creio nisso. E antes da punição, o elementar senso de justiça obriga a que se examine as provas e não as simples acusações. Além disso, há que separar a responsabilidade e o possível crime dos seus auxiliares. Com 2 meses de governo, se submetessemos o atual aparelho administrativo do País a uma devassa rígida, teríamos na certa alguns escândalos, sem que com isso o honrado marechal Castelo Branco ficasse comprometido.” (O ato e o fato, 101-102)



2. Octávio Frias de Oliveira, Editorial da FSP de 22 de setembro de 1971
"Como o pior cego é o que não quer ver, o pior do terrorismo é não compreender que no Brasil não há lugar para ele. Nunca ouve. E de maneira especial não há hoje, quando um governo sério, responsável, respeitável e com indiscutível apoio popular, está levando o Brasil pelos seguros caminhos do desenvolvimento com justiça social - realidade que nenhum brasileiro lúcido pode negar, e que o mundo todo reconhece e proclama. O país, enfim, de onde a subversão - que se alimenta do ódio e cultiva a violência - está sendo definitivamente erradicada, com o decidido apoio do povo e da imprensa que reflete o sentimento deste."



3. 
O Globo lamenta o 13o
Marin elogia Fleury
4.

5. Trecho de entrevista dada por um Pelé que só pisava na bola para o jornal La Opinión de Montevideo em 1972:
“Não há ditadura militar no Brasil. O Brasil é um país liberal, uma terra de felicidade. Somos um povo livre. Nossos dirigentes sabem o que é melhor para nós, e nos governam com tolerância e patriotismo.

6.
O Globo combatendo arruaceiros e vândalos
7. Frei Tito no Chile denunciando com a voz embargada a brutalidade da ditadura militar para com os "arruaceiros e vândalos" e "terroristas".

8. O jornal do Lacerda berrando:


Comments

Popular posts from this blog

Protestantes e evangélicos no Brasil

1.      O crescimento dos protestantes no Brasil é realmente impressionante, saindo de uma pequena minoria para quase um quarto da população em 30 anos: 1980: 6,6% 1991: 9% 2000: 15,4%, 26,2 milhões 2010: 22,2%, 42,3 milhões   Há mais evangélicos no Brasil do que nos Estados Unidos: são 22,37 milhões da população e mais ou menos a metade desses pertencem à mesma igreja.  Você sabe qual é? 2.      Costuma-se, por ignorância ou má vontade, a dar um destaque exagerado a Igreja Universal do Reino de Deus e ao seu líder, Edir Macedo. A IURD nunca representou mais que 15% dos evangélicos e menos de 10% dos protestantes como um todo. Além disso, a IURD diminuiu seu número de fiéis   nos últimos 10 anos de acordo com o censo do IBGE, ao contrário de outras denominações, que já eram bem maiores. 3.      Os jornalistas dos jornalões, acostumados com a rígida hierarquia inst...

Poema meu: Saudades da Aldeia desde New Haven

Todas as cartas de amor são Ridículas. Álvaro Campos O Tietê é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia, mas o Tietê não é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia porque não corre minha aldeia. Poucos sabem para onde vai e donde vem o ribeirão da minha aldeia, 
 que pertence a menos gente 
 mas nem por isso é mais livre ou menos sujo. O ribeirão da minha aldeia 
 foi sepultado num túmulo de pedra para não ferir os olhos nem molhar os inventários da implacável boa gente da minha aldeia, mas, para aqueles que vêem em tudo o que lá não está, 
 a memória é o que há para além do riberão da minha aldeia e é a fortuna daqueles que a sabem encontrar. Não penso em mais nada na miséria desse inverno gelado estou agora de novo em pé sobre o ribeirão da minha aldeia.

Contos: "O engraçado arrependido" de Monteiro Lobato

Monteiro Lobato conta em "O engraçado arrependido" a história trágica de um homem que não consegue se livrar do papel de palhaço da cidade, papel que interpretou com maestria durante 32 anos na sua cidade interiorana. Pontes é um artista, um gênio da comédia e por motives de espaço coloco aqui só o miolo da introdução em que o narrador descreve o ser humano como “o animal que ri” e descreve a arte do protagonista: "Em todos os gestos e modos, como no andar, no ler, no comer, nas ações mais triviais da vida, o raio do homem diferençava-se dos demais no sentido de amolecá-los prodigiosamente. E chegou a ponto de que escusava abrir a boca ou esboçar um gesto para que se torcesse em risos a humanidade. Bastava sua presença. Mal o avistavam, já as caras refloriam; se fazia um gesto, espirravam risos; se abria a boca, espigaitavam-se uns, outros afrouxavam os coses, terceiros desabotoavam os coletes. E se entreabria o bico, Nossa Senhora! eram cascalhadas, eram rinchavelhos, e...