León Ferrari, da série "Relecturas de la Biblia" |
Hannah Arendt: The Last Interview, 128 [minha tradução]
Perguntei uma vez ao meu pai porque ele tinha me colocado para estudar numa escola de jesuítas e ele me respondeu: é a melhor escola de ateísmo que eu conheço. Apesar de ter feito todo o catecismo, aos 12 anos me foi magnanimamente dada a opção de não fazer a primeira comunhão. Fui o único da escola a aceitar a opção. Minha professora de religião - também professora de ciências, matéria em que nos informava, por exemplo, que o prazer feminino era impossível numa relação sexual "apenas por prazer", que o excesso de masturbação poderia nos "causar impotência" mais tarde e que qualquer tipo de relação sexual antes dos 18 anos nos poderia [o horror!] "fazer homossexuais" - me chamou na frente da classe inteira e me perguntou porque eu não queria fazer a primeira comunhão. Do alto da minha quase adolescência, com a mesma empáfia corajosa com a qual meu filho hoje se declara um completo ateísta, disse na frente da sala que não acreditava em Deus. A professora então, narinas de cadáver eriçadas, me perguntou em que eu acreditava então. Respondi, tremendo por dentro, "em porcaria nenhuma".
"... aqueles que têm a impertinência de dar sua aprovação não são melhores que os que desobedecem de propósito. Isso é o sinal quinta-essencial do totalitarianismo, onde há uma dominação total dos homens pelos homens. "
Hannah Arendt: The Last Interview, 130 [minha tradução]
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