Skip to main content

Religião

León Ferrari, da série "Relecturas de la Biblia"
"... um judeu nunca deixa de ser judeu de acordo com a lei judaica. Contando que ele tenha nascido de uma mãe judia [...] ele é um judeu. A noção do que é a religião é completamente diferente. É muito mais uma forma de viver que uma religião no sentido particular, específica das religiões cristãs. Eu me lembro, por exemplo, que eu tive formação religiosa, judaica, quando eu tinha mais ou menos 14 anos e, é claro, eu queria ser rebelde e aprontar alguma com o nosso professor. Então me levantei e disse: 'eu não acredito em Deus." No que ele respondeu: 'E quem foi que lhe perguntou?'"
Hannah Arendt: The Last Interview, 128 [minha tradução]

Perguntei uma vez ao meu pai porque ele tinha me colocado para estudar numa escola de jesuítas e ele me respondeu: é a melhor escola de ateísmo que eu conheço. Apesar de ter feito todo o catecismo, aos 12 anos me foi magnanimamente dada a opção de não fazer a primeira comunhão. Fui o único da escola a aceitar a opção. Minha professora de religião - também professora de ciências, matéria em que nos informava, por exemplo, que o prazer feminino era impossível numa relação sexual "apenas por prazer", que o excesso de masturbação poderia nos "causar impotência" mais tarde e que qualquer tipo de relação sexual antes dos 18 anos nos poderia [o horror!] "fazer homossexuais" - me chamou na frente da classe inteira e me perguntou porque eu não queria fazer a primeira comunhão. Do alto da minha quase adolescência, com a mesma empáfia corajosa com a qual meu filho hoje se declara um completo ateísta, disse na frente da sala que não acreditava em Deus. A professora então, narinas de cadáver eriçadas, me perguntou em que eu acreditava então. Respondi, tremendo por dentro, "em porcaria nenhuma".

"... aqueles que têm a impertinência de dar sua aprovação não são melhores que os que desobedecem de propósito.  Isso é o sinal quinta-essencial do totalitarianismo, onde há uma dominação total dos homens pelos homens. "
Hannah Arendt: The Last Interview, 130 [minha tradução]

Comments

Popular posts from this blog

Diário do Império - Antenado com a minha casa [BH]

Acompanho a vida no Brasil antes de tudo pela internet, um "lugar" estranho em que a [para mim tenebrosa] classe m é dia brasileira reina soberana, quase absoluta, com seus complexos, suas mediocridades e sua agressividade... Um conhecido, daqueles que ao inv és de ter um blogue que a gente visita quando quer, prefere um papel mais ativo, mandando suas "id éias" para os outros por e-mail, me enviou o texto abaixo, que eu vou comentar o mais sucintamente possível: resolvi a partir de amanh ã fazer um esforço e tentar, al ém do blogue, onde expresso minhas "id éias" passivamente, tentar me comunicar diretamente com as pessoas por carta... OS ALUNOS DE UNIVERSIDADES PARTICULARES DERAM UMA RESPOSTA; E A BRIGA CONTINUOU ... 1 - PROVOCAÇÃO INICIAL Estudar na PUC:............... R$ 1.200,00 Estudar no PITÁGORAS:..........R$ 1.000,00 Estudar na NEWTON:.....R$ 900,00 Estudar na FUMEC:............ R$600,00 Estudar na UNI-BH:........... R$ 550,00 Estudar na

Uma gota de fenomenologia

Esse texto é uma homenagem aos milhares de livrinhos fininhos que se propõem a explicar em 50 páginas qualquer coisa, do Marxismo ao machismo e de Bakhtin a Bakunin: Uma gota de fenomenologia Uma coisa é a coisa que a gente vive nos ossos, nos nervos, na carne e na pele; aquilo que chega e esfria ou esquenta o sangue do caboclo. Outra coisa bem outra é assistir essa mesma coisa, mais ou menos de longe. Nem a mãe de um caboclo que passa fome sabe o que é passar fome do jeito que o caboclo que passa fome sabe. A mãe sabe outra coisa, que é o que é ser mãe de um caboclo que passa fome. Isso nem o caboclo sabe: o que ela sabe é dela só, diferente do caboclo e diferente do médico que recebe o tal caboclo e a mãe dele no hospital. O médico sabe da fome do cabloco de um outro jeito porque ele já ficou mais longe daquela fome um tanto mais que a mãe e outro tanto bem mais que o caboclo. O jeito que o médico sabe da fome daquele caboclo pode ser mais ou menos só dele ainda, mas isso só se ele p

Protestantes e evangélicos no Brasil

1.      O crescimento dos protestantes no Brasil é realmente impressionante, saindo de uma pequena minoria para quase um quarto da população em 30 anos: 1980: 6,6% 1991: 9% 2000: 15,4%, 26,2 milhões 2010: 22,2%, 42,3 milhões   Há mais evangélicos no Brasil do que nos Estados Unidos: são 22,37 milhões da população e mais ou menos a metade desses pertencem à mesma igreja.  Você sabe qual é? 2.      Costuma-se, por ignorância ou má vontade, a dar um destaque exagerado a Igreja Universal do Reino de Deus e ao seu líder, Edir Macedo. A IURD nunca representou mais que 15% dos evangélicos e menos de 10% dos protestantes como um todo. Além disso, a IURD diminuiu seu número de fiéis   nos últimos 10 anos de acordo com o censo do IBGE, ao contrário de outras denominações, que já eram bem maiores. 3.      Os jornalistas dos jornalões, acostumados com a rígida hierarquia institucional católica não conseguem [ou não tentam] entender muito o sistema