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Sobre a papoula da história

Desenho Meu: História Recente 

Eric Hobsbawn uma vez disse que a história era a matéria prima das ideologias nacionalistas, etnocêntricas e fundamentalistas que têm assolado o planeta, assim como a papoula era a matéria prima da heroína. Sinceramente acho que o historiador estava subestimando consideravelmente as qualidades da heroína, uma bichinha danada de perigosa também mas bem mais agradável do que essas outras drogas malhadas que se espalham pelo planeta de tempos em tempos. Se o hedonismo e o escapismo abastecem o desejo pela heroína, o desejo pelo nacionalismo, o etnocentrismoe fundamentalismo é abastecido, imagino, por impulsos sado-masoquistas. Digamos que o nacionalismo, o etnocentrismo e o fundamentalismo que andam grassando por aí deveriam ser comparados mais adequadamente com um vício mais besta como o tabaco [me desculpem os amigos e amigas fumantes que me juram sentir mil prazeres com o cigarro, mas o tabagismo é um vício quase tão besta quando a cafeína]. A história, que deveríamos sempre nos lembrar, envolve esquecimentos tanto quanto a memória, é, sim, matéria prima de ideologias nocivas no Brasil: o bolsonarismo e o vejismo se alimentam, por exemplo, de conceitos históricos fantasiosos, como uma suposta "ditabranda" e um golpe de estado que paradoxalmente nos teria "salvado do totalitarismo" com vinte anos de ditadura militar. A história é, portanto, um campo de batalha bem azedo no Brasil contemporâneo e o recente relatório da Comissão da Verdade é uma grande vitória para o lado que entende que quem assassina e tortura 5 pessoas não é mais "brando" do que quem assassina e tortura 15 pessoas e que o Brasil adiou em vinte anos uma série de embates importantes sobre a posse da terra no campo e na cidade e sobre os direitos civis em geral e dos negros, mulheres, índios e outros grupos discriminados, recebendo ainda por cima um país completamente quebrado e disfuncional da mão dos militares.
Mural com vítimas da ditadura militar

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