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De um vasto campo minado onde todos são seus inimigos ao bairro em que só os mortos saem para passear

O bairro da fama cheio de famosos passeando
Bolaño escreve um conto ["Encuentro con Enrique Lihn"] em que ele mesmo, expressamente sob o choque de ter ganho seu primeiro grande prêmio literário em 1999, sonha com o poeta chileno Enrique Lihn. Mais ou final no final do conto o mentor/defunto vira-se para o antigo pupilo e diz  "aunque no te lo creas, Bolaño, presta atención, en este barrio sólo los muertos salen a pasear."

No começo do conto ele relata melancólico sua vida antes da fama quando trocava cartas com Lihn: 

Antes de zumbi, tem que passear aqui
"sus cartas en cierta forma me habían ayudado, estoy hablando del año 1981 o 1982, cuando vivía encerrado en una casa de Gerona casi sin nada de dinero ni perspectivas de tenerlo, y la literatura era un vasto campo minado en donde todos eran mis enemigos, salvo algunos clásicos (y no todos), y yo cada día tenía que pasear por ese campo minado, apoyándome únicamente en los poemas de
Archilocus
Arquíloco, y dar un paso en falso hubiera sido fatal. Esto les pasa a todos los escritores jóvenes. Hay un momento en que no tienes nada en que apoyarte, ni amigos, ni mucho menos maestros, ni hay nadie que te tienda la mano, las publicaciones, los premios, las becas son para los otros, los que han dicho «sí, señor», repetidas veces, o los que han alabado a los mandarines de la literatura, una horda inacabable cuya única virtud es su sentido policial de la vida, a ésos nada se les escapa, nada perdonan. En fin, como decía, no hay escritor joven que no se haya sentido así en algún momento de su vida."


Assim se pode resumir bolañamente a carreira ideal de um escritor: sair de "um vasto campo minado onde todos são seus inimigos" para parar em "um bairro onde só os mortos saem para passear"...

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