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Showing posts from April, 2015

Requebra minha gente!!

Devo ser o único ser humano vivo lendo jornais do Rio de Janeiro nos anos 80 do século XIX. Coisas do ofício, no qual me afogo como forma de desafogo do mundo. Esse anúncio de "linda e graciosa polka chula para piano, muito chic e muito engraçada, com todos os seus requebradinhos" não é irresistível? Gazeta de Notícias, 1880

Sobre o espancamento de professores da rede pública estadual em Curitiba

De certa forma, o post de hoje vai quebrar uma longa tradição aqui nesse meu quintal empoeirado: falar sobre eventos correntes, que estão sendo comentados agora. Meu quintalzinho pode até ser de vez em quando meio metido a besta, mas não costuma esquecer o que é: um cantinho mixuruca esquecido do bafafá do dia-a-dia onde eu falo única e exclusivamente em meu nome. Das tais redes sociais só conheço o já [suponho] bolorento FCBK, mas com base nele, além do acesso diário a portais de informação de certos jornais, sinto que a opinião pública em sua versão internet parece um cachorro neurastênico correndo de lá para cá compulsivamente: um dia todo mundo tecla furiosamente sobre um terremoto do outro lado do mundo, dia seguinte todos riem da cantora aposentada que cantou o hino nacional bêbada e esqueceu a letra, mais um dia e rimos/choramos o político que esqueceu o nome de dois estados do seu próprio país ou o candidato a candidato que esqueceu até a própria promessa de campanha no meio ...

Tudo distante, tudo deserto. Belo Horizonte, capital universal da melancolia

Le Flanêur Jennifer Souza Hoje sou só eu Correndo da mesma solidão Tentando evitar o chão Parado Outro gole amargo Quem sabe esqueço o que eu guardo Ou encontro Algum plano Tudo distante Tudo deserto Tem nome esse lugar? Talvez eu grite E alguém escute Enquanto ensaio Rodopios Soltos a flanar Meus olhos vão se enxergar Tudo isso vai mudar Eu sei Hoje sou só eu Correndo da mesma solidão Tentando evitar o chão Molhado Tudo distante Tudo deserto Tem nome esse lugar? Talvez eu grite E alguém escute Enquanto ensaio Rodopios Soltos a flanar Meus olhos vão se enxergar Tudo isso vai mudar Eu sei

"Baltimore" de Randy Newman com Nina Simone

Beat-up little seagull On a marble stair Tryin' to find the ocean Lookin' everywhere Baltimore, 1968 Hard times in the city In a hard town by the sea Ain't nowhere to run to There ain't nothin' here for free Hooker on the corner Waitin' for a train Drunk lyin' on the sidewalk Sleepin' in the rain Baltimore, 1968 And the people hide their faces And they hide their eyes 'Cause the city's dyin' And they don't know why Oh, Baltimore Ain'i it hard just to live Oh, Baltimore Ain'i it hard just to live, just to live Get my sister Sandy And my little brother Ray Buy a big old wagon Gonna haul us all away Live out in the country Where the mountain's high Never gonna come back here 'Til the day I die Oh, Baltimore Man, it's hard just to live Oh, Baltimore Man, it's hard just to live, just to live

Poesia minha: O marinheiro de Fernando Pessoa

Ilustração minha: Corrosão do Tempo O marinheiro de Fernando Pessoa Dos pés soa o sussurro dos seixos da praia boa. O barulho me ensina coisas que eu não quero: a derrota chega, ele me diz, e a derrota também é boa: vibram todas as coisas desse mundo, vibram os bichos e as pessoas, tudo no mundo vibra em sua própria frequência, toda a matéria do mundo se move, mesmo as pedras, tudo quer se fazer sentir presente, mesmo de longe, tudo quer se fazer conhecer, e um toque só é diferente de um não toque porque a distância é só uma questão de intensidade. E até a derrota é boa porque até os cadáveres soam enquanto se descompõem uma vibração frouxa e informe que é um abrir as comportas e deixar-se ir com o mundo que ressoa convocando a todos nós, esperando o tempo todo pelo encontro, pela absorção num outro corpo. A derrota da vida é uma entrega à perfeição que consiste em cada coisa conter em si todas as outras coisas. ...

Quarto dia, quarto poema: Lição de Poesia de João Cabral de Melo Neto

Arte minha: Auto-Retrato A Lição de Poesia                   I Toda a manhã consumida como um sol imóvel diante da folha em branco: princípio do mundo, lua nova. Já não podias desenhar sequer uma linha; um nome, sequer uma flor desabrochava no verão da mesa: nem no meio-dia iluminado, cada dia comprado, do papel, que pode aceitar, contudo, qualquer mundo.                   II A noite inteira o poeta em sua mesa, tentando salvar da morte os monstros germinados em seu tinteiro. Monstros, bichos, fantasmas de palavras, circulando, urinando sobre o papel, sujando-o com seu carvão. Carvão de lápis, carvão da idéia fixa, carvão da emoção extinta, carvão consumido nos sonhos.               ...

Terceiro dia, terceiro poema: Francisco Alvim

Desenho meu: "S_mething. is missing" Argumento Mas se todos fazem Do livro Elefante de Francisco Alvim , 2000

Poema de Cacaso

  LAR DOCE LAR p/ Maurício Maestro Minha pátria é minha infância: Por isso vivo no exílio

Traduzindo o começo de "Nonato" de Augusto Roa Bastos

O parágrafo de abertura de Nonato, de Augusto Roa Bastos: Augusto Roa Bastos "Quando você me diz que eu não posso me lembrar tão para trás, que ninguém em seu juízo são pode fazer isso, e que eu já estou crescido para andar perdendo tempo com bobageiras de menino, eu me calo. Só por fora. Sem ninguém para falar dessas coisas, já que você também não quer me escutar, fico falando comigo mesmo, para dentro. Posso desperdiçar minhas palavras; não desperdiço nada com meu silêncio. Me abraço com a parede, encosto a boca no reboco e as sinto mover-se no meu hálito com gosto de cal, gosto de baratinhas vermelhas. Eu as mastigo um pouco e as deixo subir meio mancando. Sobem e ficam enroladas nas teias de aranha do teto." No original em espanhol: "Cuando usted me dice que yo no puedo acordarme tan lejos, que nadie en su sano juicio puede hacerlo, y que ya estoy crecido para andar perdiendo el tiempo en chocheras de chico, yo me callo. Solo p...