O
Corpo em Agosto
Porque quando eu era criança, Deus me puxou para o colo dEla. Porque quando eu sentava no colo dEla, Ela lia para mim. Porque a história que Ela mais lia era a que eu menos gostava. Porque todos os dias Ela abria aquele livro verde fininho e dizia Essa é a história da sua vida. Porque do início ao fim eram só três páginas.
Eu
acredito naquela estrada que é infinita e negra e cegamente segue em frente por
todo o sempre. Eu acredito que crocodilos engolem pedras para ajudá-los a digerir
o caranguejo. Porque até o século XX as pessoas ainda podiam morrer de uma
sensação. E porque minha fome é tão profunda que eu tenho vergonha de levantar
a cabeça.
Porque
a memória – não a gravidade – nos tem cravados a esse tremor. E quando Deus pôs
os olhos em cima de nós pela primeira vez, Ela ficou louca de vergonha. Porque
se o planeta tivesse uma porta dos fundos nós ainda estaríamos lá, esperando
que ar aprovasse nossa entrada. Porque os seus olhos foram a única vez a avenca
me disse que sim. Porque não importava quantas vezes eu morria, eu sempre
acordava de novo – feliz.
Então
ontem à noite, depois que de gritar com meu filho pela primeira vez, ele sonhou
que nós fomos passear dentro das árvores. Quando encontramos um esquilo no
caminho, meu filho disse que eu dei um chute no bicho. Então o esquilo se
transformou num livro verde fininho, que nós lemos.
Porque
quando Deus transformou-se em uma criança pequena eu a puxei para o meu colo.
Porque quando eu a pus no meu colo, para
agradá-La, eu abri minha blusa. Porque a boca dEla é um lugar impossível de
rosa, uma imensa catedral crua, que Ela abriu, dente-no-mamilo, e então agarrou
com força.
Original em inglês [com alguns erros] e outro poemas de Robin Coste Lewis podem ser lidos aqui.
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