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Blogolandia

Li no blogue http://www.pretensoliterato.blogspot.com/ recentemente o seguinte post:


"Mulher não gosta de transar

Uma pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo (USP) “descobriu” que o sexo é a oitava prioridade na vida das mulheres brasileiras, absurdamente atrás de itens como “horas de sono” e “atividades culturais”, por exemplo. Para elas, sexo só é mais importante que os itens “exercícios e férias regulares”. Lendo a notícia, ficou claro para mim o porquê de, atualmente, “as coisas” andarem mais difíceis para o nosso lado, amigos homens...

Ah, a pesquisa também apontou que, para os homens, o sexo é a terceira prioridade, atrás de “alimentação saudável” e “convívio com a família”. Tudo bem, com família eu não mexo, cristão que sou. Mas “alimentação saudável”? Tenha dó! Que bando de homem frouxo que é esse que está espalhado Brasil afora, Deus do céu!? Além de não ligar para sexo (será possível isso?), eles também não comem o maravilhoso fígado com jiló do Mercado Central de Belo Horizonte, não entram na tradicional feijoada de sexta-feira nem no apetitoso tropeirão de quinta — pratos que tão bem abrem o apetite para a mal passada picanha do churrasco de domingo... Para que viver, então, senão para desfrutar de todas essas maravilhas da vida?

A única boa notícia que encontrei na tal pesquisa é que, dentre as mulheres ouvidas, 43% disseram que fariam sexo com alguém sem envolvimento afetivo. Ufa: há ainda esperança, por assim dizer. Azar o meu, que só ando trombando com as que pertencem aos outros 57%. Mas dá-se um jeito. Disposição para procurar é o que não me falta.

Como eu não poderia deixar de escrever a parte burocrática desta matéria — atento, é claro, às modernas (sic) técnicas de jornalismo aprendidas na universidade — a pesquisa foi realizada em dez capitais brasileiras com 8.200 pessoas maiores de idade que não gostam de sexo. A responsável pelo estudo é a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Projeto Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. Disse ela sobre a pesquisa, para os veículos de comunicação replicarem, eufóricos, em massa: “Eu diria que os homens fazem sexo para se sentirem bem e que as mulheres precisam se sentir bem para fazer sexo”. Se por um lado a afirmação não traz novidade alguma para quem já se acostumou a ouvir o tradicional “estou com dor de cabeça” noturno, por outro a frase de efeito ficou um primor só.

Por fim, levando em conta essa pesquisa, pode-se deduzir que mulher, no frigir dos (meus? Seus? Nossos?) ovos, não gosta de transar. Antes da cama, a sua lista de prioridades contempla “alimentação saudável”, “convívio com a família”, “horas de sono”, “trabalhar no que gosta”, “cuidados com a saúde”, “convívio social” e “atividades culturais”. Ou seja: as mulheres transam, na verdade, para terem filhos, para não perder o homem para a amante ou porque, na ocasião que o parceiro propõe um rala-e-rola, elas estão: enjoadas de sanduíche natural; brigadas com os parentes; com insônia; de férias; com o plano de saúde vencido; cansadas dos amigos e tristes porque a Campanha de Popularização do Teatro e da Dança acabou. É, meu amigo: torça, mas torça muito para perceber e conseguir aproveitar esse dia tão raro e especial na vida de sua mulher. Ou então, comece a pensar na possibilidade de se tornar um seminarista. Afinal, celibato por celibato, é melhor ficar longe da tentação para não sofrer, não é não?

É: pensando bem, não."

Comentei assim:
"Acho que essa pesquisa só vem a provar que o homem brasileiro é uma bosta na cama...
E se é para fazer mal-feito, melhor nem fazer.
Mas, pensando bem, essas pesquisas [que são legião, na imprensa pelo menos] é que são um primor do mal-feito. E um mal-feito previsível, ainda por cima, já que elas, ou dizem o que todo mundo ja sabe, tipo "comer muito bacon engorda" ou "timidos preferem nao falar em publico"; ou fazem associações estapafúrdias, tipo "quem come as unhas antes do jantar assiste mais horas de televisao educativa" ou "mulheres que usam meias verdes se aposentam mais cedo".
Alias é uma pena que Carmita Abdo não compartilhe da opinião de que se é para fazer mal-feito, melhor nem começar; porque então ela teria um bom motivo para NÃO fazer mais uma pesquisa porca de encher nota de meio de jornal de dia de semana.
E também gostaria de saber quem é que não mentiria numa pesquisa estúpida dessas. Eu certamente inventaria um monte de lorotas absurdas [ex: faço séquiço 13 vezes por dia, sempre antes do Jornal Nacional] ou um nonsense comparável como "eu me sinto mulher para fazer bem e me sinto sexo para fazer homem". Mas essa pesquisa parece que nem para isso serviria, porque pelo jeito era de múltipla escolha, ou, em outras palavras, só permitia como resposta as mentiras e idiotices mais convencionais."

Gostaria de ter assinado meu comment como "Zuleide".

Comments

Ewerton Martins said…
E eu, o pretenso literato em questão, achei ótimo o comentário! Uma amiga fez umas colocações muito parecidas acerca de não concordar com este tipo de pesquisa...
Pois, eh. Fica tbm o meu convite para quem chega aqui para visitar seu blogue.
Vi uma matéria sobre essa pesquisa, acho que na "Veja". A colunista também estava incomodada e sugeria algumas perguntas: "mas por que as mulheres deixam de lado o que deveria ser tão importante? seria culpa dos homens, que não transam direito?"

- - -

Nem me atrevo a entrar nessa discussão. Mas gosto de uma frase do filme "8 1/2 mulheres", do P.Greenaway (obs: não vi o filme, só o trailer): "Os homens gostam das mulheres, as mulheres gostam das crianças, e as criançsa gostam dos hamsters."

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