Além de "A quinta história", inclui outros quatro contos curtos que lidavam também com o escrever. Um deles era "Borges y yo", que trata da dupla vida [pública e privada] que de certa forma quase todo mundo tem, mas que num escritor famoso torna-se um problema mais agudo. O conto, de uma única página, abre assim:
"Al otro, a Borges, es a quien le ocurren las cosas. Yo camino por Buenos Aires y me demoro, acaso ya mecánicamente, para mirar el arco de un zaguán y la puerta cancel; de Borges tengo noticias por el correo y veo su nombre en una terna de profesores o en un diccionario biográfico."
E termina descrevendo as mudanças de temática na carreira do contista como uma tentativa de livrar-se da tal outra figura:
"Hace años yo traté de librarme de él y pasé de las mitologias del arrabal a los juegos con el tiempo y con to infinito, pero esos juegos son de Borges ahora y tendré que idear otras cosas. Asi mi vida es una fuga y todo lo pierdo y todo es del olvido, o del otro."
Mas arremata com um parágrafo curto decisivo:
"No sé cuál de los dos escribe esta página."
Lembrei-me de um texto que li recentemente sobre a diferença entre "naked" [pelado] e "nude" [desnudo]. O primeiro um estado que prescinde da pose, da consciência de estar sendo observado. 99.999999999% de todas as fotografias e pinturas rodando o mundo são obviamente de gente desnuda e não pelada. Pensei que Borges está de forma extremamente sucinta falando dos dois estados e finalmente confessando que está diferenciação já não tem a clareza que parece no princípio.
"Al otro, a Borges, es a quien le ocurren las cosas. Yo camino por Buenos Aires y me demoro, acaso ya mecánicamente, para mirar el arco de un zaguán y la puerta cancel; de Borges tengo noticias por el correo y veo su nombre en una terna de profesores o en un diccionario biográfico."
E termina descrevendo as mudanças de temática na carreira do contista como uma tentativa de livrar-se da tal outra figura:
"Hace años yo traté de librarme de él y pasé de las mitologias del arrabal a los juegos con el tiempo y con to infinito, pero esos juegos son de Borges ahora y tendré que idear otras cosas. Asi mi vida es una fuga y todo lo pierdo y todo es del olvido, o del otro."
Mas arremata com um parágrafo curto decisivo:
"No sé cuál de los dos escribe esta página."
Lembrei-me de um texto que li recentemente sobre a diferença entre "naked" [pelado] e "nude" [desnudo]. O primeiro um estado que prescinde da pose, da consciência de estar sendo observado. 99.999999999% de todas as fotografias e pinturas rodando o mundo são obviamente de gente desnuda e não pelada. Pensei que Borges está de forma extremamente sucinta falando dos dois estados e finalmente confessando que está diferenciação já não tem a clareza que parece no princípio.
Comments
Eu sabia que ele tinha vivido numa fazenda, na natureza, algo assim, mas não imaginava que seria lá.
Tem a casa de pedra que ele construiu, os móveis, fotos dele magérrimo e barbudo caçando. Impressionante.
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Na parede tem um "decálogo do contista" que ele escreveu, mas não aparece a referência da publicação original. Estava inspirado por Poe, na época.
De todo modo, nesse decálogo, há coisas interessantes sobre substantivos e verbos.
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Fiz um curso de lit. latino americana com um professor mexicano, há alguns anos. Chamava-se Alberto Paredes ou algo assim.
Ele era apaixonado por um conto, "Bienvenido Bob", mas esqueci o escritor.
Também adorava "O deserto", do Quiroga, que realmente me impressionou muito.