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Conto 2 - Borges y yo

Além de "A quinta história", inclui outros quatro contos curtos que lidavam também com o escrever. Um deles era "Borges y yo", que trata da dupla vida [pública e privada] que de certa forma quase todo mundo tem, mas que num escritor famoso torna-se um problema mais agudo. O conto, de uma única página, abre assim:

"Al otro, a Borges, es a quien le ocurren las cosas. Yo camino por Buenos Aires y me demoro, acaso ya mecánicamente, para mirar el arco de un zaguán y la puerta cancel; de Borges tengo noticias por el correo y veo su nombre en una terna de profesores o en un diccionario biográfico."

E termina descrevendo as mudanças de temática na carreira do contista como uma tentativa de livrar-se da tal outra figura:

"Hace años yo traté de librarme de él y pasé de las mitologias del arrabal a los juegos con el tiempo y con to infinito, pero esos juegos son de Borges ahora y tendré que idear otras cosas. Asi mi vida es una fuga y todo lo pierdo y todo es del olvido, o del otro."

Mas arremata com um parágrafo curto decisivo:

"No sé cuál de los dos escribe esta página."

Lembrei-me de um texto que li recentemente sobre a diferença entre "naked" [pelado] e "nude" [desnudo]. O primeiro um estado que prescinde da pose, da consciência de estar sendo observado. 99.999999999% de todas as fotografias e pinturas rodando o mundo são obviamente de gente desnuda e não pelada. Pensei que Borges está de forma extremamente sucinta falando dos dois estados e finalmente confessando que está diferenciação já não tem a clareza que parece no princípio.

Comments

Fui visitar as ruinas das missões jesuíticas em Santo Ignacio, na fronteira da Argentina c/ Paraguai e Brasil, e esbarrei com a casa de Horacio Quiroga.

Eu sabia que ele tinha vivido numa fazenda, na natureza, algo assim, mas não imaginava que seria lá.

Tem a casa de pedra que ele construiu, os móveis, fotos dele magérrimo e barbudo caçando. Impressionante.

- - -

Na parede tem um "decálogo do contista" que ele escreveu, mas não aparece a referência da publicação original. Estava inspirado por Poe, na época.

De todo modo, nesse decálogo, há coisas interessantes sobre substantivos e verbos.

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Fiz um curso de lit. latino americana com um professor mexicano, há alguns anos. Chamava-se Alberto Paredes ou algo assim.

Ele era apaixonado por um conto, "Bienvenido Bob", mas esqueci o escritor.

Também adorava "O deserto", do Quiroga, que realmente me impressionou muito.
Quiroga eh mesmo uma especie de Poe. Uma das decepcoes que eu tive com Borges foi saber que ele nao gostava nada de Quiroga como escritor. Parece coisa de esteticismo quase parnasiano esse preconceito. Eu nao tenho nada contra escrever boa prosa, muito antes pelo contrario, mas dizer que Quiroga escreve "mal" - eh pedantismo porteno...

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