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Poema meu: Eu e a Palavra

Foto: Fathia Al-Absi faz pão no campo de refugiados de Al-Shati , Gaza. Photograph: Abid Katib/Getty Images










http://blogs.guardian.co.uk/food/2008/04/20-week/





Eu sou o chão que a palavra pisa.
Eu sou o pão que a palavra come.
Pobre palavra, consome e oprime
justo aquilo que a sustenta viva;
pobre de mim, condenado à fome
e sabedoria dos insetos,
gastos, sujos, insones, expressos
na lágrima que não cai, represa.

É eu e a palavra que me pisa,
eu e essa palavra que me come,
juntos no matrimônio fundido
até que o tempo dê a medida
das coisas e nos livre do amor
em que eu sou chão e pão da palavra.

Comments

Gostei muito.

Tenho uma pergunta: por que você escreveu "é eu e a palavra..."? Para mim, o "é" parece quebrar a sobriedade do conjunto, e não entendi a escolha.

- - -

Nada grave, só uma pergunta mesmo.
Aquele "eh" apareceu em uma revisao do poema [que nao esta mesmo acabado] e eu pensei nele como uma solucao em varios sentidos, que nao tem o mesmo peso:
1. Ele reforça a fusao do eu com a palavra em uma so coisa;
2. Ele preserva a metrica que eu estava querendo [versos de 10 silabas com o acento final na nona]
3. Ele preserva uma estrutura que se repete [nao em todos os versos porque senao vira marcha de bandinha do interior] em que o acento bate forte na primeira, na nona e numa mais ou menos no meio.
Confesso que nenhum dos tres motivos sozinhos tem tanto peso assim. Mas eu me lembro de quando era menino e estava aprendendo violao com um velho professor que eu hoje suponho que fosse meio seresteiro e que me ensinou uma cancaozinha meio de seresta cuja letra que me incomodava muito por comecava com uma frase assim:
"Belo para mim eh crianca brincar"
e depois ia seguindo e aqi dizia "eh chuva caindo, eh campos em flor, etc" e esse "eh campos" me deixava incomodado e me fez pensar nessa concordancia, na logica dela, que ainda me incomoda, parece uma provocacao [a cancao eh bem "castiça", nao tem um portugues nada informal, nem tom de conversa, nem nada disso].
Enfim, nao sei em ultima instancia o que fazer com esse poema ou talvez nao saiba o que fazer com qualquer outro que eu ja escrevi.
Em outras palavras: otima pergunta, Sabina!
Carol M. said…
Prosaico, Paulo. Gostei.

Beijinhos!
Esse poema me veio [claro que o primeiro esboço] no meio de uma apresentaçao da Abralic no ano passado, quando as pessoas comentavavm uma frase do Erico Verissimo sobre as mulheres dos grandes herois dos pampas que eram, no dizer dele "o chao que eles pisavam" ou coisa que o valha.
Fiquei pensando naquele "elogio" que na verdade dizia tanto mais do que aparentemente elogiar e saiu o começo disso aqui!
Anonymous said…
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