Skip to main content

Reformas Ortográficas

Eu também estranho as mudanças na ortografia e tenho preguiça de reaprender as regras [ainda escrevo como antes]. Mas esse auê todo, esse mal-humor todo com mais essa reforma, me fez recolher alguns exemplos de passados às vezes bem recentes para dar uma certa perspectiva aos rabugentos de plantão.

1. Até o começo dos anos 70 a gente acentuava as coisas assim em português brasileiro:
Sàbiamente êle fôra embora mais cedo mas ela sòmente estranhou a côr do envelope.
O cafèzinho estava bem prêto.

2. Já lá pelos anos 1940 a gente escrevia assim:
Com o irmão prêso há três annos e o triumpho dos inimigos, a familia estava anniquilada.
A commoção della e seu instincto de sobrevivência o fizeram fugir.
Era vivissima a lembrança dos ruidos do quarto.

3. Por outro lado, bem mais atrás, no século XVII, não havia ainda homogeneidade. Uns escreviam assim:

Toda a orthographia consiste em escrevermos, assi como
pronunciamos; & assi hemos de pronunciar, como escrevemos

Enquanto outros escreviam assim:

...a primeira regra da orthographia Portuguesa: que assi hemos de screuer, como
pronunciamos, & assi hemos de pronunciar como screuemos

Já deu para perceber que nossos amados acentos e hífens pelos quais andam derramando baldes de lágrimas por aí não são antigos assim. E é fácil bem imaginar algum indignados colunistas de jornal de antanho tenham execrado a idéia nefasta de por um acento agudo em idéia.

Comments

Semfalardeepocasmaisremotasemquenaosepontuavanemseseparavamaspalavras

- - -

Do ponto de vista trabalhista, acho o acordo ótimo.

Um breve momento de destaque e empregabilidade para os revisores.
Se nos servir para acabar com o absurdo que eh ter que pagar para traduzir um livro do portugues para o portugues [ainda que essa talvez seja uma medida que traga menos empregos], ja valeu a pena!

Popular posts from this blog

Contos: "O engraçado arrependido" de Monteiro Lobato

Monteiro Lobato conta em "O engraçado arrependido" a história trágica de um homem que não consegue se livrar do papel de palhaço da cidade, papel que interpretou com maestria durante 32 anos na sua cidade interiorana. Pontes é um artista, um gênio da comédia e por motives de espaço coloco aqui só o miolo da introdução em que o narrador descreve o ser humano como “o animal que ri” e descreve a arte do protagonista: "Em todos os gestos e modos, como no andar, no ler, no comer, nas ações mais triviais da vida, o raio do homem diferençava-se dos demais no sentido de amolecá-los prodigiosamente. E chegou a ponto de que escusava abrir a boca ou esboçar um gesto para que se torcesse em risos a humanidade. Bastava sua presença. Mal o avistavam, já as caras refloriam; se fazia um gesto, espirravam risos; se abria a boca, espigaitavam-se uns, outros afrouxavam os coses, terceiros desabotoavam os coletes. E se entreabria o bico, Nossa Senhora! eram cascalhadas, eram rinchavelhos, e...

Poema meu: Saudades da Aldeia desde New Haven

Todas as cartas de amor são Ridículas. Álvaro Campos O Tietê é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia, mas o Tietê não é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia porque não corre minha aldeia. Poucos sabem para onde vai e donde vem o ribeirão da minha aldeia, 
 que pertence a menos gente 
 mas nem por isso é mais livre ou menos sujo. O ribeirão da minha aldeia 
 foi sepultado num túmulo de pedra para não ferir os olhos nem molhar os inventários da implacável boa gente da minha aldeia, mas, para aqueles que vêem em tudo o que lá não está, 
 a memória é o que há para além do riberão da minha aldeia e é a fortuna daqueles que a sabem encontrar. Não penso em mais nada na miséria desse inverno gelado estou agora de novo em pé sobre o ribeirão da minha aldeia.

Uma gota de fenomenologia

Esse texto é uma homenagem aos milhares de livrinhos fininhos que se propõem a explicar em 50 páginas qualquer coisa, do Marxismo ao machismo e de Bakhtin a Bakunin: Uma gota de fenomenologia Uma coisa é a coisa que a gente vive nos ossos, nos nervos, na carne e na pele; aquilo que chega e esfria ou esquenta o sangue do caboclo. Outra coisa bem outra é assistir essa mesma coisa, mais ou menos de longe. Nem a mãe de um caboclo que passa fome sabe o que é passar fome do jeito que o caboclo que passa fome sabe. A mãe sabe outra coisa, que é o que é ser mãe de um caboclo que passa fome. Isso nem o caboclo sabe: o que ela sabe é dela só, diferente do caboclo e diferente do médico que recebe o tal caboclo e a mãe dele no hospital. O médico sabe da fome do cabloco de um outro jeito porque ele já ficou mais longe daquela fome um tanto mais que a mãe e outro tanto bem mais que o caboclo. O jeito que o médico sabe da fome daquele caboclo pode ser mais ou menos só dele ainda, mas isso só se ele p...