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Recomendação: "O método desviante" de Jeanne Marie Gagnebin

Momentos partiularmente significativos para mim no texto "O método desviante" de Jeanne Marie Gagnebin:

1. Não esquecer que o tempo é múltiplo: não é somente “chronos” (uma concepção linear que induz falsamente a uma aparência de causalidade) , mas é também “aiôn” (esse tempo ligado ao eterno, que, confesso, ainda não consegui entender…) e, sobretudo, “kairos”, tempo oportuno, da ocasião que se pega ou se deixa, do não previsto e do decisivo.

2. paciência e lentidão são virtudes do pensar e, igualmente, táticas modestas, mas efetivas, de resistência à pressa produtivista do sistema capitalista- mercantil- concorrencial

3. não querer ser “atual”, estar na moda, up to date, mas assumir o anacronismo produtivo, uma não-conformidade ao tempo (Unzeitgemässheit, dizia Nietzsche), não correr atrás das novidades (mercadorias intelectuais ou não), mas perceber o surgimento do devir no passado antigo ou no presente balbuciante, hesitante, ainda indefinido e indefinível.

4.  não levar demais a sério as “opiniões” pessoais, em particular as suas. São, no melhor dos casos, somente a ocasião de ir além delas, do reino dito encantado das “idéias” e “crenças” subjetivas. Não cair na ilusão liberal de que a liberdade se esconde nas escolhas individuais, arbitrárias e/ou manipuladas.

não se dobrar aos imperativos mercantis-intelectuais da “produção” de “papers” e da contagem de pontos nos inúmeros “curricula” e relatórios administrativos- acadêmicos: se tiver que contar “pontos”, conte para que lhe deixem em paz, mas não confunda isso com trabalho intelectual ou mesmo espiritual.

Comments

Muito bom.
Vale a pena ler a coisa toda, Sabina. Li uma entrevista e esse texto curto dela e me impressionou positivamente. Me chamou a atenção como ela, nos dois textos que eu li, chama atenção para alguma coisa que ela não entende da área de filosofia. Pode ser um truque de retórica, mas no universo acadêmico, onde tanta gente arrota sapiência e erudição, chama a atenção.

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