Em 1928 o 1% mais ricos nos Estados Unidos eram senhores de 24% da renda nacional.
Um certo Franklin Delano Roosevelt governou os Estados Unidos de 1933 [quando recebeu um país com 13 milhões de desempregados] a 1945 [quando ajudou os russos a derrotar Hitler]. Depois de quatro mandatos na presidência, tinha reduzido a 11% a porcentagem da renda nacional que estava nas mãos do 1% mais ricos em 1944. FDR era um membro da elite americana que estudou em Harvard e formou-se em direito em Columbia, mas sacudiu o país e enfrentou poderes econômicos fortíssimos em confronto às vezes aberto. Brigou por exemplo com a corte suprema até conseguir mantê-la longe de engessar a política econômica em nome de dogmas do liberalismo do século XIX.
Seria bom se os políticos de hoje em dia dessem um lida nos discursos de FDR, um sujeito que sabia falar com o público de forma direta, sem esse medo de ofender que transforma muitos políticos em verdadeiros seguidores de Odorico Paraguaçu. Exemplos:
Em 1934 respondendo aos críticos que reclamavam da intervenção do estado na economia:
Those, fortunately few in number, who are frightened by boldness and cowed by the necessity for making decisions, complain that all we have done is unnecessary and subject to great risks. Now that these people are coming out of their storm cellars, they forget that there ever was a storm. They point to England. They would have you believe that England has made progress out of her depression by a do-nothing policy, by letting nature take her course. England has her peculiarities and we have ours but I do not believe any intelligent observer can accuse England of undue orthodoxy in the present emergency.
Did England let nature take her course? No. Did England hold to the gold standard when her reserves were threatened? No. Has England gone back to the gold standard today? No. Did England hesitate to call in ten billion dollars of her war bonds bearing 5 percent interest, to issue new bonds therefore bearing only 3 1/2 percent interest, thereby saving the British Treasury one hundred and fifty million dollars a year in interest alone? No. And let it be recorded that the British bankers helped. Is it not a fact that ever since the year 1909, Great Britain in many ways has advanced further along lines of social security than the United States? Is it not a fact that relations between capital and labor on the basis of collective bargaining are much further advanced in Great Britain than in the United States? It is perhaps not strange that the conservative British press has told us with pardonable irony that much of our New Deal program is only an attempt to catch up with English reforms that go back ten years or more.
Em 1938, ainda no mesmo assunto:
I am still convinced that the American people, since 1932, continue to insist on two requisites of private enterprise, and the relationship of Government to it. The first is a complete honesty, a complete honesty at the top in looking after the use of other people's money, and in apportioning and paying individual and corporate taxes (according to) in accordance with ability to pay. And the second is sincere respect for the need of all people who are at the bottom, all people at the bottom who need to get work -- and through work to get a (really) fair share of the good things of life, and a chance to save and a chance to rise.
FDR não era nenhum santo, como todo e qualquer político não é. Ele rifou, por exemplo, os direitos políticos e sociais dos negros nos Estados Unidos em nome do apoio do Partido Democrata nos estados do Sul. Nem era remotamente socialista, muito antes pelo contrário. Mas indubitavelmente construiu um país muito mais próspero e muito mais justo, contrariando os interesses do tal 1% mais rico. Porque soube construir um consenso político poderoso que durou mais ou menos 10 anos e soube tirar o máximo desse consenso.
A partir de Ronald Reagan, os Estados Unidos começaram a dar marcha a ré na história. Em trinta anos voltaram para onde estavam antes de Roosevelt. Em 2012 o 1% mais rico do país possui 23% da renda nacional. Nessa toada chegaram ao século XIX antes do meio do século.
Por falar em século XIX, diz o Banco Mundial que no Brasil os 20% mais ricos [grande maioria das pessoas que saíram às ruas pelo menos em São Paulo de acordo com a insuspeita Folha de São Paulo] ganham 30 vezes mais que os 20% mais pobres. A média nos países desenvolvidos é de 6 vezes mais. Mesmo a média na América Latina como um todo é bem melhor, 12 vezes mais entre os 20% de cima e os 20% de baixo. É uma pena que a mediocridade intelectual, a covardia política e a leniência em nome de uma suposta governabilidade não nos permitam seguir muito adiante quando confrontados com o mesmo tipo de ansiedade que produziu 1964. O Brasil já teve Paulo Freire, Augusto Boal, Sérgio Buarque de Holanda, Celso Furtado, Darcy Ribeiro, Lúcio Costa, e outros que mesmo quando erraram nunca tiveram medo de ousar em imaginar um mundo diferente. Pensar parece uma ousadia hoje em dia. Pelo jeito, só mesmo fazendo FDR encarnar em algum médium espírita ou mãe-de-santo no Brasil. Isso bem rápido, antes que o espiritismo, a umbanda e o candomblé acabem sendo proibidos como cultos satânicos.
FDR |
Seria bom se os políticos de hoje em dia dessem um lida nos discursos de FDR, um sujeito que sabia falar com o público de forma direta, sem esse medo de ofender que transforma muitos políticos em verdadeiros seguidores de Odorico Paraguaçu. Exemplos:
Em 1934 respondendo aos críticos que reclamavam da intervenção do estado na economia:
Those, fortunately few in number, who are frightened by boldness and cowed by the necessity for making decisions, complain that all we have done is unnecessary and subject to great risks. Now that these people are coming out of their storm cellars, they forget that there ever was a storm. They point to England. They would have you believe that England has made progress out of her depression by a do-nothing policy, by letting nature take her course. England has her peculiarities and we have ours but I do not believe any intelligent observer can accuse England of undue orthodoxy in the present emergency.
Did England let nature take her course? No. Did England hold to the gold standard when her reserves were threatened? No. Has England gone back to the gold standard today? No. Did England hesitate to call in ten billion dollars of her war bonds bearing 5 percent interest, to issue new bonds therefore bearing only 3 1/2 percent interest, thereby saving the British Treasury one hundred and fifty million dollars a year in interest alone? No. And let it be recorded that the British bankers helped. Is it not a fact that ever since the year 1909, Great Britain in many ways has advanced further along lines of social security than the United States? Is it not a fact that relations between capital and labor on the basis of collective bargaining are much further advanced in Great Britain than in the United States? It is perhaps not strange that the conservative British press has told us with pardonable irony that much of our New Deal program is only an attempt to catch up with English reforms that go back ten years or more.
Em 1938, ainda no mesmo assunto:
I am still convinced that the American people, since 1932, continue to insist on two requisites of private enterprise, and the relationship of Government to it. The first is a complete honesty, a complete honesty at the top in looking after the use of other people's money, and in apportioning and paying individual and corporate taxes (according to) in accordance with ability to pay. And the second is sincere respect for the need of all people who are at the bottom, all people at the bottom who need to get work -- and through work to get a (really) fair share of the good things of life, and a chance to save and a chance to rise.
FDR não era nenhum santo, como todo e qualquer político não é. Ele rifou, por exemplo, os direitos políticos e sociais dos negros nos Estados Unidos em nome do apoio do Partido Democrata nos estados do Sul. Nem era remotamente socialista, muito antes pelo contrário. Mas indubitavelmente construiu um país muito mais próspero e muito mais justo, contrariando os interesses do tal 1% mais rico. Porque soube construir um consenso político poderoso que durou mais ou menos 10 anos e soube tirar o máximo desse consenso.
A partir de Ronald Reagan, os Estados Unidos começaram a dar marcha a ré na história. Em trinta anos voltaram para onde estavam antes de Roosevelt. Em 2012 o 1% mais rico do país possui 23% da renda nacional. Nessa toada chegaram ao século XIX antes do meio do século.
Por falar em século XIX, diz o Banco Mundial que no Brasil os 20% mais ricos [grande maioria das pessoas que saíram às ruas pelo menos em São Paulo de acordo com a insuspeita Folha de São Paulo] ganham 30 vezes mais que os 20% mais pobres. A média nos países desenvolvidos é de 6 vezes mais. Mesmo a média na América Latina como um todo é bem melhor, 12 vezes mais entre os 20% de cima e os 20% de baixo. É uma pena que a mediocridade intelectual, a covardia política e a leniência em nome de uma suposta governabilidade não nos permitam seguir muito adiante quando confrontados com o mesmo tipo de ansiedade que produziu 1964. O Brasil já teve Paulo Freire, Augusto Boal, Sérgio Buarque de Holanda, Celso Furtado, Darcy Ribeiro, Lúcio Costa, e outros que mesmo quando erraram nunca tiveram medo de ousar em imaginar um mundo diferente. Pensar parece uma ousadia hoje em dia. Pelo jeito, só mesmo fazendo FDR encarnar em algum médium espírita ou mãe-de-santo no Brasil. Isso bem rápido, antes que o espiritismo, a umbanda e o candomblé acabem sendo proibidos como cultos satânicos.
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