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Um Playground para os Bilionários

Um apartamento no novo condomínio de luxo One57 em Nova Iorque chegou ao preço de nada mais nada menos que 100 milhões de dólares.

Tauscher não está interessado em fazer perguntas demais.
77% dos apartamentos no One57 foram comprados por entidades financeiras de origem obscura e 58% desse tipo de apartamento em Nova Iorque é comprado em dinheiro vivo. Rudy Tauscher, gerente de um desses condomínios disse: “O edifício não sabe de onde vem o dinheiro. Não nos interessa.” Em outras palavras o tal mercado super-luxo é também um convite para que todos os Perellas do mundo venham lavar seus helicópteros cheios de pasta de cocaína em Nova Iorque.

Sabe quanto desconto os moradores desses apartamentos terão no seu IPTU [property tax]? 95%. Esse ano cada apartamento deixará de pagar a bagatela de 360 mil dólares em imposto à cidade.

Sabe como os empresários que construíram o prédio conseguiram esse desconto? Financiando 61 apartamentos no Bronx.

One 57 é aquele magrelo bem mais alto que os outros.
É fácil perceber que o One57 é bem mais alto que os seus colegas luxuosos, estourando em muito o teto de construções de Manhattan, chegando mesmo ao dobro da altura dos velhotes que estão mais perto do Central Park. Ora, os envolvidos no projeto "compram" metros de altura de prédios ali em volta que não chegaram ao teto permitido pela cidade. O resultado são prédios estranhamento finos, com uma proporção bastante peculiar: enquanto o finado World Trade Center tinha a proporção de 1 de largura para sete de altura, esses prédios chegam a ser 27 vezes mais altos que largos.

Brad Hoylman, membro do senado estadual propôs que se sobre-taxa a todos os imóveis acima de 5 milhões para gerar fundos que subsidiariam a construção de habitação para famílias de renda média e baixa. As chances de um projeto desse tipo passar é muito baixa, já que os responsáveis pelos projetos de alto luxo da cidade também têm relações, digamos, íntimas com um grande número de políticos tanto republicanos como democratas.

Desde 2010 o número de famílias sem casa na cidade cresceu 21.5% chegando ao número impressionante de 68.000 famílias vivendo na rua ou em abrigos provisórios. Os mais sortudos como uma amiga minha conseguem resistir a serem expulsos [chegaram a bloquear a porta de entrada do apartamento dela com uma "reforma" que a prendeu lá dentro] até receber uma indenização que a permitiu dar entrada numa casa em Connecticut. Seu apartamento foi ocupado por mais um desses robôs que trabalham em Wall Street, cheios de dinheiro e vazios de tudo mais.

Bloomberg, o prefeito bilionário
Essas mudanças não são apenas resultado das forças do mercado. O todo poderoso prefeito Bloomberg, que passou 12 anos no cargo, dizia que “se nós pudéssemos fazer com que todos os bilionários do mundo se mudassem para cá seria uma benção.” A ideia por trás disso é que o dinheiro desses bilionários beneficiariam a todos na cidade, um discurso repetido desde Reagan nos Estados Unidos por políticos dos dois partidos. Os resultados são os mesmos de sempre: um país cada vez mais cruel, cada vez mais parecido com o Brasil na desigualdade. Um país onde tentar viver do seu trabalho humilde é visto como uma espécie de falha de caráter.

Mais informações sobre esse assunto vocês encontram em inglês em artigo de Matin Filler chamado "New York: Conspicuous Construction" do New York Review of Books que está aqui.

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