Flannery O’Connor tinha cinco anos de idade e uma galinha de estimação. Sabe-se lá de que jeito, a menina ensinou a galinha a andar para trás e o feito virou tema de um curta-metragem de 1931 que a Pathé inseria antes da principal atração nos seus cinemas. A futura escritora do alto dos seus cinco anos aparecia na tela por alguns segundos com seu bichinho de estimação empoleirado no ombro. A galinha faz seu número e depois o narrador engraçadinho diz que o cameraman podia fazer isso com todos os outros bichos e começava a mostrar vários animais de fazenda em sequências mostradas de de trás para frente:
Aqui está o filme no site da Pathé, com seus detalhes técnicos e aqui o depoimento com o sarcasmo típico de Flannery O'Connor.
Flannery O'Connor gostava de dizer que aquilo tinha sido o ponto mais alto da sua vida e que tudo depois tinha sido um anticlimático.
Na universidade O'Connor ocupou o posto de cartunista no jornal dos alunos já com um tipo de humor ácido e nem um pouco "mulherzinha":
e note como ela assinava os seus cartoons com um passarinho:
O'Connor sempre criou animais domésticos e são bem conhecidas as fotos dela, já escritora consagrada, com pavões que ela mesmo criava:
Pelo menos um par de vezes O'Connor se referiu a um certo grupo de pessoas como "galinhas sem asa" que seriam objeto da sua obra. A primeira em uma carta de 1950: "... I am largely worried about the wingless chicken. I feel this is the time for me to fulfill myself by stepping in and saving the chicken, but I don't know exactly how since I am not bold. I only know I believe in the complete chicken." Quando a New Yorker publicou uma resenha não assinada espinafrando um texto da escritora em 1955 ela voltou à imagem com mais clareza: "It was a case in which it is easy to see that the moral sense has been bred out of certain sections of the population, like the wings had been bred off certain chickens to produce more white meat on them. This is a generation of wingless chicken which I suppose is what Nietzsche meant when he said God was dead."
Essa fixação com galinhas, essa mistura de piedade e crueldade narrativa e essa mistura ambiciosa de declarações de humildade e de pretensões artísticas altíssimas, sempre me fizeram pensar em Flannery O'Connor e Clarice Lispector como parceiras.Termino aqui, com o conto "Uma galinha" na voz de Aracy Balabanian, uma heroína digna de Flannery O'Connor.
Aqui está o filme no site da Pathé, com seus detalhes técnicos e aqui o depoimento com o sarcasmo típico de Flannery O'Connor.
Flannery O'Connor gostava de dizer que aquilo tinha sido o ponto mais alto da sua vida e que tudo depois tinha sido um anticlimático.
Na universidade O'Connor ocupou o posto de cartunista no jornal dos alunos já com um tipo de humor ácido e nem um pouco "mulherzinha":
e note como ela assinava os seus cartoons com um passarinho:
O'Connor sempre criou animais domésticos e são bem conhecidas as fotos dela, já escritora consagrada, com pavões que ela mesmo criava:
Pelo menos um par de vezes O'Connor se referiu a um certo grupo de pessoas como "galinhas sem asa" que seriam objeto da sua obra. A primeira em uma carta de 1950: "... I am largely worried about the wingless chicken. I feel this is the time for me to fulfill myself by stepping in and saving the chicken, but I don't know exactly how since I am not bold. I only know I believe in the complete chicken." Quando a New Yorker publicou uma resenha não assinada espinafrando um texto da escritora em 1955 ela voltou à imagem com mais clareza: "It was a case in which it is easy to see that the moral sense has been bred out of certain sections of the population, like the wings had been bred off certain chickens to produce more white meat on them. This is a generation of wingless chicken which I suppose is what Nietzsche meant when he said God was dead."
Essa fixação com galinhas, essa mistura de piedade e crueldade narrativa e essa mistura ambiciosa de declarações de humildade e de pretensões artísticas altíssimas, sempre me fizeram pensar em Flannery O'Connor e Clarice Lispector como parceiras.Termino aqui, com o conto "Uma galinha" na voz de Aracy Balabanian, uma heroína digna de Flannery O'Connor.
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