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Um brevíssimo perfil de Eduardo Cunha como pretexto para algumas reflexões

PC Farias
Eduardo Cunha entrou na política pelas mãos de PC Farias como tesoureiro da campanha de Collor no Rio de Janeiro. Ganhou a presidência da TELERJ de presente. Lá sofreu seu primeiro processo por superfaturamento em um contrato com a NEC da Rede Globo. Foi também investigado pelo esquema de PC Farias. Conseguiu um novo padrinho, o deputado evangélico Francisco Silva (PP-RJ), que tentou emplacar Eduardo Cunha outra vez na TELERJ no governo FHC em 1995, mas não conseguiu. De qualquer maneira Francisco Silva explicou singelamente na Folha de São Paulo o motivo da sua indicação:

Francisco Silva em sua rádio
“Para nós, deputados, foi a melhor gestão. A gente chegava lá, pedia a ligação de uma linha, um orelhão. Ele manobrava e atendia em uma semana." 

Francisco Silva contratou Eduardo Cunha para trabalhar na sua Melodia FM, onde Cunha produzia o programa de ninguém menos que Anthony Garotinho. De lá Eduardo Cunha voltou ao estado, agora a tiracolo de Francisco Silva, que recebeu a secretaria de habitação do estado do Rio de Janeiro em 1999. Não durou muito. Foi afastado do cargo de presidente da Cehab (Companhia Estadual de Habitação) já no ano 2000, acusado de favorecer a construtora paranaense Grande Piso [que nome!] de Roberto Sass em quatro licitações do conjunto Nova Sepetiba, o maior projeto habitacional do Estado, paralisado pelaJustiça por não ter licença ambiental.

Garotinho só perdeu seu programa
na Melodia FM no governo Cabral
Outras muitas acusações e processos se seguiram desde então.
Nada disso abalou a carreira ascendente do deputado federal com votações cada vez mais significativas: 101.495 votos em 2002, 130.773 votos em 2006, 150.616 votos em 2010 e 232 708 votos em 2014. Agora na câmara ele recebeu 267 votos [mais da metade] dos seus colegas para presidir a câmara dando uma surra no segundo colocado que nem conseguiu provocar um segundo turno.


Não sou cientista político. Gostaria muito de ler alguma coisa interessante sobre esse sucesso eleitoral crescente mesmo depois de uma série de escândalos e acusações pesadas. Por favor, algo que vá além dessa explicação mequetrefe de que o povo brasileiro é burro ou que os evangélicos votam em qualquer um que seus pastores mandarem. Essas são explicações não apenas simplistas demais, mas também claramente de um ranço conservador UDNista que não me atrai de jeito nenhum, principalmente depois de 1964. O que é que fez, por exemplo no meu estado, campeões de votos Reginaldo Lopes (do PT com 310.226 votos) e Rodrigo de Castro (do PSDB com 292.848 votos)? Será que ninguém se debruça sobre esses números e essas figuras e tenta entender como é que eles têm essas votações tão expressivas? 

Continuamos mobilizados e energizados para eleger presidentes e governadores sem dar muita atenção ao que entrava a democratização do sistema político. Nem Jesus presidente com Buda de vice resolvem esse entrave. A ascenção de Eduardo Cunha aos holofotes da república é bem parecida com a de Severino Cavalcanti há quase 10 anos - uma mensagem das catacumbas de que os zumbis querem sair para encher a pança. Mas antes de se preocupar com o que fazer com Eduardo Cunha quando ele sai das catacumbas do baixo clero para virar presidente da câmara, é preciso realmente entender como é que essas catacumbas se enchem de Eduardos Cunhas com o voto livre e popular.   
Severino Albuquerque
Eduardo Cunha

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