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Recordar é viver: Era uma vez um mural

Diego Rivera foi contratado pela família Rockefeller para fazer um mural no Rockefeller Center, conjunto de edifícios concebido como um verdadeiro monumento de fé da família endinheirada ao capitalismo posto em dúvida pela terrível crise de 1929.



Rivera resolveu plantar quase no meio do mural a figura de ninguém menos que Lênin. A família Rockefeller pressionou para que ele apagasse Lênin, mas Rivera bateu o pé. No máximo incluiria um Abraham Lincoln do outro lado do mural. Resolveram então pagar integralmente ao muralista mexicano a quantia combinada e depois destruíram o mural, ainda que alguns na família Rockefeller quisessem transportá-lo para o MoMA. A inteligência de Rivera fez da destruição do mural no coração de Manhattan um ato simbólico poderoso e ele considerou a obra como tal plenamente bem sucedida. Lucienne Bloch fez escondida fotografias do mural antes que ele fosse destruído e as imagens correram o mundo.  

Exatamente um dia depois da demolição do mural, Hitler promovia a infame queima de livros no dia 10 de maio de 1933 na Bebelplatz de Berlim:




Rivera voltou ao México e, de posse de fotografias do original, refez o mural no Palacio de Bellas Artes na Cidade do México. Aproveitou para incluir no mural Marx, Engels, Trotsky e mais outros líderes comunistas, inclusive os americanos Bertram David Wolfe e Jay Lovestone. E ainda meteu John D. Rockefeller Jr., de copo na mão, no meio de uma cena de "decadência burguesa".


Clique na imagem para vê-la em tamanho maior
Em tempos em que pessoas podem ser agredidas na rua por estarem vestindo uma camisa vermelha e que gente porta cartazes pedindo um golpe militar e menos Paulo Freire, me lembrei desse momento difícil nos anos 30 e do destemor inteligente de Rivera em peitar seus endinheirados patronos. 

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