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Como Tomás de
Aquino, acredito na existência material da alma. Não como uma espécie
Como Marx, acredito num
materialismo sutil que incorpora em si, por exemplo, o conceito de imaginação. Marx
comparava aranhas e abelhas a tecelões e arquitetos para dizer que o que distingue
os humanos dos animais não é a excelência de seu trabalho, mas o fato de que os
humanos erguem primeiro em sua imaginação tudo o que poderão ou não eventualmente
erguer na realidade. Por isso, quando leio um texto teórico e especialmente um
texto que discute determinações primeiras e segundas e limites e potenciais da
agência humana no mundo sou particularmente sensível à ausência ou presença do
termo imaginação.
Depois de quase uma década trabalhando nos Estados Unidos, adaptar-se ao sistema de concursos das universidades brasileiras é um desafio interessante. Enquanto nos Estados Unidos a universidade pede que cada candidato, além do seu currículo, apresente o melhor do seu trabalho, o sistema de pontos de exame exige que a gente saia estudando coisas e tentando construir um discurso articulado sobre assuntos que muitas vezes podem não ser mais que uma nota de rodapé no seu trabalho, quando não menos. Eu vou estudar A e acabo trombando com B ou C, que não tem nada a ver com o exame, mas me interessam muito mais. O resultado é que, entre vários textos curtos que tenho produzido para me preparar, acabo produzindo fragmentos que não servem para nada e que acabam ficando então "às moscas"...
Eis um deles:
Corpo e Imaginação
Desenho meu: Carnaval |
de terceiro rim
fantasmagórico ou algum espectro misterioso escondido em algum beco escuro do
cérebro. A alma está acessível a qualquer um que mantenha seus olhos bem abertos,
fixos num corpo vivo. A alma é a forma do corpo, a forma como ele se apresenta
aqui e agora, vivo, concreto. A alma é a forma pela qual o corpo se expressa no
mundo que ele habita. Essa forma de expressão é única, distinta para cada pedaço
de matéria viva que chamamos corpo. Portanto, volto a dizer, a alma está
visível para qualquer um que quiser vê-la. Cada animal tem sua alma, sua forma particular
de vida. Porque se comunica, porque constrói significado, porque se transforma
constantemente, o corpo vivo se diferencia objetos inanimados (o termo
significa exatamente sem alma). A alma é o corpo vivo, é a matéria articulada. Não
quero ter nada que ver com o materialismo crasso que imagina toda a matéria
como um saco de cimento inerte e estúpido.
Arte minha: To Rent What You Owned |
Comments
De fato, o sistema de concursos daqui é bem problemático. Ele está longe de medir o que cada candidato é, só consegue avaliar o que cada um sabia sobre aquele tema naquele dia. Fico imaginando o que aconteceria se você escrevesse um texto desses numa prova de concurso... Os examinadores seriam forçados a reconhecer a qualidade do negócio, mas ficariam de mãos atadas pelos critérios de avaliação.
Amplexo!
Mas ainda fico pensando no que a banca faria caso aparecesse um texto desses numa prova de concurso!