Skip to main content

Complexo de Mazombo

Um crítico perspicaz da obra de Gregório de Mattos chamou sua forma de ver o mundo como "Complexo de Mazombo" [Mazombo era o termo para brancos nascidos na colônia, como o "criollo" no castelhano]. Tudo o que ele vê está filtrado pelo seu ressentimento e até indignação, motivados pela convicção do Mazombo de que ele é melhor do que o lugar onde vive, de que o lugar onde ele nasceu ou onde vive não merece suas qualidades culturais e morais superiores. Junte-se a isso a convicção de que negatividade é necessariamente agudeza de juízo; que grosseria é firmeza de príncipios e um imensa vontade de distanciamento, de não se sentir responsável, co-autor da realidade onde vive e temos o quadro completo. Agora, cá entre nós, bater na Danusa é brigar com cachorro morto. Existem por aí casos bem mais sofisticados do Complexo de Mazombo, mesmo porque desde o pós-ditadura ele é quase uma epidemia entre as elites brasileiras.
PS. Para não criar mal-entendidos, Gregório de Mattos é um poeta que eu já li muito e de quem gosto imensamente. Quem dera um décimo dos Mazombos de hoje em dia escrevessem com um décimo da verve e talento dele…

Comments

Gostei de q tivesse me visitado. Coloquei seu link na parede para encontrar você mais facilmente.
Ah, não conhecia a expressão. Ótima.

- - -

Coloquei no meu blog a passagem sobre o Urupes e a garçonniere de Oswald. Na verdade ele não esqueceu o manuscrito, mas as provas. Menos grave.
Pois é, Sabina, de alguma maneira o tal repente que eu propus vai acontecendo, né? Estou pensando aqui numa tréplica...

Popular posts from this blog

Contos: "O engraçado arrependido" de Monteiro Lobato

Monteiro Lobato conta em "O engraçado arrependido" a história trágica de um homem que não consegue se livrar do papel de palhaço da cidade, papel que interpretou com maestria durante 32 anos na sua cidade interiorana. Pontes é um artista, um gênio da comédia e por motives de espaço coloco aqui só o miolo da introdução em que o narrador descreve o ser humano como “o animal que ri” e descreve a arte do protagonista: "Em todos os gestos e modos, como no andar, no ler, no comer, nas ações mais triviais da vida, o raio do homem diferençava-se dos demais no sentido de amolecá-los prodigiosamente. E chegou a ponto de que escusava abrir a boca ou esboçar um gesto para que se torcesse em risos a humanidade. Bastava sua presença. Mal o avistavam, já as caras refloriam; se fazia um gesto, espirravam risos; se abria a boca, espigaitavam-se uns, outros afrouxavam os coses, terceiros desabotoavam os coletes. E se entreabria o bico, Nossa Senhora! eram cascalhadas, eram rinchavelhos, e...

Poema meu: Saudades da Aldeia desde New Haven

Todas as cartas de amor são Ridículas. Álvaro Campos O Tietê é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia, mas o Tietê não é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia porque não corre minha aldeia. Poucos sabem para onde vai e donde vem o ribeirão da minha aldeia, 
 que pertence a menos gente 
 mas nem por isso é mais livre ou menos sujo. O ribeirão da minha aldeia 
 foi sepultado num túmulo de pedra para não ferir os olhos nem molhar os inventários da implacável boa gente da minha aldeia, mas, para aqueles que vêem em tudo o que lá não está, 
 a memória é o que há para além do riberão da minha aldeia e é a fortuna daqueles que a sabem encontrar. Não penso em mais nada na miséria desse inverno gelado estou agora de novo em pé sobre o ribeirão da minha aldeia.

Uma gota de fenomenologia

Esse texto é uma homenagem aos milhares de livrinhos fininhos que se propõem a explicar em 50 páginas qualquer coisa, do Marxismo ao machismo e de Bakhtin a Bakunin: Uma gota de fenomenologia Uma coisa é a coisa que a gente vive nos ossos, nos nervos, na carne e na pele; aquilo que chega e esfria ou esquenta o sangue do caboclo. Outra coisa bem outra é assistir essa mesma coisa, mais ou menos de longe. Nem a mãe de um caboclo que passa fome sabe o que é passar fome do jeito que o caboclo que passa fome sabe. A mãe sabe outra coisa, que é o que é ser mãe de um caboclo que passa fome. Isso nem o caboclo sabe: o que ela sabe é dela só, diferente do caboclo e diferente do médico que recebe o tal caboclo e a mãe dele no hospital. O médico sabe da fome do cabloco de um outro jeito porque ele já ficou mais longe daquela fome um tanto mais que a mãe e outro tanto bem mais que o caboclo. O jeito que o médico sabe da fome daquele caboclo pode ser mais ou menos só dele ainda, mas isso só se ele p...