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Poesia minha: A Escada do Tempo

Ilustração feita por Covarrubias a partir de imagens dos codices
com imagens aztecas para o livro Pueblo del Sol, clássico de Alfonso Caso

A ESCADA DO TEMPO

         Não desça sozinho a escada do tempo:          
leva a memória da ferrugem nas unhas,
enxuga as mãos nessa toalha de sonhos
que engole o sol burro de fim de janeiro
e, na longa caminhada escada abaixo,
deixa atrás toda sede de novidade e nostalgia.

Uma réstia de onças cegas te come
o tempo e te espera no caminho de volta.

Ainda tens no bolso uma fração
de eternidade, mas as asas do ouvido
do caos sacodem o vento e anunciam
outro banho de sangue e já não podes descer
nem mais um tento. Enterra então num canto
teu livro obscuro e espera os vermes
limparem os dentes de aço do futuro
que estala as juntas dessa gaiola-mundo.

Espera.

Lê nas paredes o céu e o inferno
mas finge com cuidado que não vê
que a caligrafia dos dois é a mesma.

Espera:
alguém há de desenterrar o teu livro.

O cão lambe as feridas,
esconde as cicatrizes debaixo do pelo liso,
e espreita.



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