Recordar é viver:
“Declaração da CNBB sobre
a situação nacional”
Conferencia Nacional dos
Bispos do Brasil
29 de maio de 1964
"O Brasil foi, há
pouco, cenário de graves acontecimentos, que modificaram profundamente os rumos
da situação nacional. Atendendo à geral e angustiosa expectativa do Povo
Brasileiro, que via a marcha acelerada do comunismo para a conquista do Poder,
as Forças Armadas acudiram em tempo, e, evitaram se consumasse a implantação do
regime bolchevista em nossa Terra. Teria sido mais do que se pode imaginar: a
supressão das liberdades mais sagradas e, de modo especial, das liberdades
religiosa e civil.
Logo após o movimento
vitorioso da Revolução, verificou-se uma sensação de alívio e esperança,
sobretudo porque, em face do clima de insegurança e quase desespero em que se
encontravam as diferentes classes ou grupos sociais, a Proteção Divina se fez
sentir de maneira sensível e insofismável. De uma à outra extremidade da Pátria
transborda dos corações o mesmo sentimento de gratidão a Deus, pelo êxito
incruento de uma revolução armada. Ao rendermos graças a Deus, que atendeu às
orações de milhões de brasileiros e nos livrou do perigo comunista, agradecemos
aos militares que, com grave risco de suas vidas, se levantaram em nome dos
supremos interesses da nação, e gratos somos a quantos concorrerem para
libertá-la do abismo iminente.
Critério.
A Revolução, segundo
afirmam seus dirigentes mais qualificados, teve a intenção de arrancar o País
ao comunismo, e de fazer valer a justiça, o direito e o bom senso. Não há
dúvida que a ação militar deve consolidar a vitória, mediante o expurgo das
causas da desordem. Entretanto, o critério de correção, os métodos a serem
empregados na busca e no trato dos culpados, as medidas saneadoras e as penas
li não são atribuições da força, como tal, mas de outros valores, sem os quais
a força não passaria de arbitrariedade, de violência, de tirania. Que os
acusados tenham o sagrado direito de defesa e não se transformem em objeto de
ódio ou de vendeta. Mercê de Deus, muito nos tem tranqüilizado a palavra
oficial, quer a do Comando Revolucionário, quer a do Senhor Presidente da
República, desde que, eleito pelo Congresso Nacional, assumiu a
responsabilidade de Supremo Magistrado. Contudo, ao reconhecer as inevitáveis
dificuldades do momento e as melhores intenções do Governo, cumpre-nos declarar
que não podemos concordar com a atitude de certos elementos, que têm promovido
mesquinhas hostilidades à Igreja, na pessoa de Bispos, sacerdotes, militantes
leigos e fiéis. Reconhecemos e lamentamos que, até movimentos de orientação
católica tenham incorrido em faltas e abusos cometidos por parte de um ou outro
element que burlou nossa vigilância, ou de outros que foram vítimas de seu
idealism, da falta de malícia ou da inadequada apreciação dos feitos. Porém, na
medida em que essas faltas chegaram ao nosso conhecimento, antes mesmo da
Revolução, jamais deixamos de advertir e castigar os culpados, fossem laicos ou
sacerdotes.
Acusações.
Por outro lado, não
aceitamos, nem jamais poderemos aceitar a acusação injuriosa, generalizada ou
gratuita, velada ou explícita, de que Bispos, sacerdotes e fiéis ou
organizações, como, por exemplo, a Ação Católica e o Movimento de Educação de
Base (MEB), sejam comunistas ou comunizantes. Isto se deve, às vezes, à própria
tática comunista, outras vezes a certos elementos inconformados com a atitude
aberta e corajosa de verdadeiros apóstolos da Igreja, do Clero e do Laicato,
que pregam a sã doutrina, seja contra o comunismo, seja contra gritantes
injustiças sociais e focos de
corrupção e de degradação
dos valores morais. É profundamente lamentável que tradicionais e acirrados
inimigos da Igreja e alguns órgãos da imprensa do País levem ao pelourinho da
difamação e da calúnia Bispos e Sacerdotes, e cheguem ao extremo de se
vangloriarem do título de defensores e orientadores da consciência católica.
Contra esta abominação levantamos nossas vozes de autênticos Pastores. Estamos
onde sempre estivemos, em defesa dos sagrados direitos de Deus e da Pátria.
Insistimos na necessidade e na urgência da restauração da ordem social, em
bases cristãs e democráticas. Mas esta condenação não será possível apenas com
a condenação teórica e a repressão policial do comunismo e, sobretudo, enquanto
o espírito sobrenatural autêntico não impregnar todas as pessoas e todas as
atividades humanas. Nossas tradições cristãs e a sagrada instituição da
família, assim como o sentimento religioso do povo não devem servir para
acobertar aqueles que corrompem os costumes, ou se entregam aos abusos do capitalismo
liberal. […]
Apelo.
Fazemos apelo a todas as
forças vivas da Nação, para que, pondo de lado os interesses egoísticos,
colaborem com as autoridades constituídas na tarefa ingente de reconstrução da
Pátria. Esperamos que os responsáveis pelos destinos temporais do Brasil
aceitem, defendam e cumpram os princípios do Evangelho e as normas da Doutrina
Social Cristã, não só porque esses princípios são os nossos, mas porque
constituem a base fora da qual não há, nem poderá haver, ordem social, segurança,
estabilidade e verdadeiro progresso […].”
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