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Retalhos costurados: Os dinossauros não estão extintos


[ilustração: essa cena reproduz o momento em que o Tiranossauro Bolsonaro, enfurecido com os filhos que acabavam de chegar na madrugada da terça-feira de carnaval vindos do baile do orgulho gay-afro-cubano, perseguia os filhos para dar-lhes uma chuva de torturas terapeuticas.]


Reagir com indignação aos três patetas do apocalipse da família Bolsonaro é, na minha opinião, bater em cachorro morto. Reagir com espanto é fruto de ingenuidade ou ignorância. Reagir com ironia, portanto, foi meu primeiro instinto:


Está lançada a campanha "Ajude os Bolsonaros a Soltar a Franga e Sair da Lama": alguém aí conhece um cubano socialista, negro, gay e com espírito cívico suficiente para se animar a dar um bom abraço fraterno nesses três patetas do apocalipse? O planeta terra, o Brasil e principalmente o Rio de Janeiro de São Sebastião Maia agradecem.


Mas também não acho que seja adequado ficar fingindo que os dinossauros agora são mais ou menos inofensivos, fazendo apenas piruetas grotescas no circo da mídia. Mais uma vez, um post de João Vilaverde deu o mote para a minha glosa ao comentar reportagem recente sobre comemorações do golpe de primeiro de abril [já repararam que a coisa toda já tinha começado como farsa quando resolveram marcar o golpe pela data da saída dos tanques e dos soldados dos quartéis, uma vez que Jango caiu mesmo no dia da mentira?]. Na dita reportagem transcrevem esse trecho de um dos discursos:


"O Brasil vem mantendo a sua versão de democracia, não uma democracia de fato. Sub-repticiamente, nós vivemos hoje sob uma tirania. Está em pleno andamento hoje uma república sindicalista."

Sandra Cavalcanti, 25 de março de 2011.


Há seis meses atrás essa cantilena das viúvas da ditadura virava componente do discurso de um candidato a presidente supostamente progressista:


"Diziam que existia uma República sindicalista no período de Jango. Eles eram anjos. República sindicalista existe agora"

José Serra, 15 de julho de 2010


Bom, antes de qualquer coisa, no espírito do “recordar é viver”: tanto o brontossauro emplumado com cara de vampiro como a tiranossaura que cospia fogo nos mendigos do Rio de Janeiro estão se referindo a uma velha fantasia mentirosa de um outro velho pássaro emplumado, um corvo chamado Carlos Lacerda:


"Vamos recordar um episódio conhecido como Carta Brandi. Foi divulgado o texto de uma carta que um peronista de nome Brandi teria mandado ao Jango propondo a criação de uma república sindicalista na América Latina, a partir de um eixo Brasil-Argentina. O petardo partiu da Tribuna mas logo surgiram desconfianças de que a assinatura da carta era falsa. Nesse meio tempo, o Perón caiu. O Lacerda foi à Argentina e eu o acompanhei com a missão de levantar a 'autenticidade' da carta. Descobri que a assinatura era de fato falsa. Avisei ao Lacerda. Ele disse: 'você não tinha nada que descobrir. O Jango que descobrisse'".

Newton Carlos, ex-repórter da Tribuna da Imprensa em depoimento sobre o caso de 1955 feito em 2002


Para completar, cito a sabedoria profética do grande contista guatemalteco [país de larga e triste tradição dinosáurica]:


El Dinosaurio

Cuando despertó, el dinosaurio todavía estaba allí.

Augusto Monteroso, 1959


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