Urupês, uma Stalingrado jagunça do nosso canibal bandeirante, ou a história da bonita amizade entre o neto do fazendeiro José Hipólito de Andrade e o neto do visconde de Tremembé
Já vou começar dizendo de uma vez que gosto muito de partes da obra de Oswald de Andrade [como da de Monteiro Lobato] e que não tenho a menor disposição para querer tentar linchar nem ele nem nenhum outro escritor da primeira metade do século XX. Mas fico impressionado com as viagens em que um monte de gente embarca em cima de uma leitura apressada de meia dúzia de poemas, quem sabe o Rei da Vela e sem dúvida o "Manifesto Antropófago" para fazer desse último uma espécie de pedra de toque da cultura brasileira, um milagroso texto que seria capaz de ser simultaneamente da vanguarda modernista e pós-modernista [idem com Mário de Andrade e o Macunaíma]. Ninguém, por exemplo, parece atentar para o fato do tal manifesto estar no mesmo número inaugural da revista onde figura também um texto sobre o Tupi [digno de ser assinado por um Policarpo Quaresma sem graça] do futuro pai do integralismo Plínio Salgado.
O Oswald do "sarampão" modernista e o da "maleita" comunista posterior milagrosamente se fundem sem conflitos, e ainda recebem uma pitada do Oswald posterior, recuperador senhorial do Oswald do "Pau-Brasil". Tudo isso é feito sem o menor pudor, no espírito de um tropicalismo dos mais ingênuos, mais de quarenta anos depois do Tropicalismo.
Já falei que aqui tenho pouco tempo. Então vou ficar num breve exemplo, um texto de 1943 "Carta a Monteiro Lobato", feito para comemorar o aniversário da publicação de Urupês [um sucesso impressionante; imaginem que o livro vendeu 30.000 exemplares só entre 1918 e 1925]. O texto inteiro é acessível aqui. Uso o texto porque aqueles que acham Oswald o máximo costumam achar Lobato o mínimo, como se eles fossem antípodas. Não são.
Fico com apenas quatro passagens significativas:
1. "E lendo a frase de sua entrevista: 'Os fatos provam que o verdadeiro Marco Zero de Oswald de Andrade é êsse livro', não venho retificar e sim esclarecer. De fato Urupês é anterior ao Pau-Brasil e à obra de Gilberto Freyre."
2. "Você foi o Gandhi do modernismo. Jejuou e produziu, quem sabe, nesse e noutros setores a mais eficaz resistência passiva de que se possa orgulhar uma vocação patriótica. No entanto, martirizaram você por ter falta de patriotismo!"
3. "Esqueçamos a estética e a Semana de Arte e estendamos a mão à sua oportuna e sagrada xenofobia."
4. "Que em torno do Urupês de hoje, se restabeleça, pois, Lobato, a rocha viva que Euclides sentiu na Stalingrado jagunça de Canudos."
O Oswald do "sarampão" modernista e o da "maleita" comunista posterior milagrosamente se fundem sem conflitos, e ainda recebem uma pitada do Oswald posterior, recuperador senhorial do Oswald do "Pau-Brasil". Tudo isso é feito sem o menor pudor, no espírito de um tropicalismo dos mais ingênuos, mais de quarenta anos depois do Tropicalismo.
Já falei que aqui tenho pouco tempo. Então vou ficar num breve exemplo, um texto de 1943 "Carta a Monteiro Lobato", feito para comemorar o aniversário da publicação de Urupês [um sucesso impressionante; imaginem que o livro vendeu 30.000 exemplares só entre 1918 e 1925]. O texto inteiro é acessível aqui. Uso o texto porque aqueles que acham Oswald o máximo costumam achar Lobato o mínimo, como se eles fossem antípodas. Não são.
Fico com apenas quatro passagens significativas:
1. "E lendo a frase de sua entrevista: 'Os fatos provam que o verdadeiro Marco Zero de Oswald de Andrade é êsse livro', não venho retificar e sim esclarecer. De fato Urupês é anterior ao Pau-Brasil e à obra de Gilberto Freyre."
2. "Você foi o Gandhi do modernismo. Jejuou e produziu, quem sabe, nesse e noutros setores a mais eficaz resistência passiva de que se possa orgulhar uma vocação patriótica. No entanto, martirizaram você por ter falta de patriotismo!"
3. "Esqueçamos a estética e a Semana de Arte e estendamos a mão à sua oportuna e sagrada xenofobia."
4. "Que em torno do Urupês de hoje, se restabeleça, pois, Lobato, a rocha viva que Euclides sentiu na Stalingrado jagunça de Canudos."
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