Um dos gravados da série Desastres de la Guerra de Goya |
“Eu
duvido, eu duvido, duvido da justiça disso tudo, duvido da sua razão de ser,
duvido que seja certo e necessário ir tirar do fundo de nós todos a ferocidade
adormecida, aquela ferocidade que se fez e se depositou em nós
nos milenários combates com as feras, quando disputávamos a terra a elas... Eu não
vi homens de hoje; vi homens de Cro-Magnon, do Neanderthal armados com machados
de sílex, sem piedade, sem amor, sem sonhos generosos, a matar, sempre a
matar... Este teu irmão que estás vendo também fez das suas, também foi descobrir
dentro de si muita brutalidade, muita
ferocidade, muita crueldade... Eu matei, minha irmã; eu matei! E não contente de matar, ainda
descarreguei um tiro quando o inimigo arquejava a meus pés... Perdoa-me! Eu te
peço perdão, porque preciso de perdão e não sei a quem pedir, a que Deus, a que
homem, a alguém enfim... Não imaginas como isto faz-me sofrer...”
Trecho de carta de Policarpo Quaresma para a sua irmã, do romance de Lima Barreto
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