Eis o final de "As
muralhas invisíveis da Babilônia moderna" de Nicolau Sevcenko. O artigo completo está disponível aqui.
"... levou
a uma técnica diferente de cercamento que não é mais a de exclusão pelas
muralhas, mas a da inserção controlada. [...]
Foto minha: "Vista Para o Nada" |
Hoje em dia, nós vemos, sobretudo no Rio de
Janeiro, no caso do Maracanã ou do Sambódromo, espaços para controlar os que
não têm espaço e que dão a eles a ilusão de que têm. O Camelódromo é o
supra-sumo desse refinamento porque organiza a desorganização por excelência,
que são as pequenas profissões da sobrevivência cotidiana, dos pequenos camelôs
que vivem de expedientes e que agora vivem de expedientes dentro de um espaço
reservado a viver de expedientes.
Como aqui em São Paulo, que é esta ironia de
colocar mecanismos de controle da poluição dentro dos bairros que ficam ao lado
das fábricas de Cubatão. E colocar esgotos dentro das comunidades que ficam
sobre os pântanos. Isso dá às pessoas a sensação de que elas têm um espaço, mas
o que ocorre na realidade é que internalizaram a sua muralha. Ao invés de
termos muralhas impostas, temos muralhas voluntárias que se constroem em torno
da própria imaginação e do próprio desejo de cidadania dos pseudocidadãos."
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