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Domingos José Martins em estilo retratinho por F T J Lobo |
Estou aqui levando em consideração que estamos falando de mitos tanto quanto de história; ou seja, de que não se trata aqui de inocentemente "corrigir" o que a cultura brasileira arrumou com a história brasileira mas de avaliar esse arranjo e questionar o seu significado.
É nesse sentido que numero aqui algumas inquietações pessoais geradas a partir da minha experiência com a forma como o mesmo assunto é tratado em outros países do continente americano:
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Cipriano Barata sem a juba de cabelo branco |
1. Por que a insistência em comemorar a "fundação" do Brasil em 1500 e não em 1822? 1822 está tão crivado de contradições e distorções quanto qualquer outra data, inclusive o 1776 dos Estados Unidos. O mundo colonial atlântico dos portugueses era composto de duas margens altamente integradas: as possessões na América e as possessões portuguesas da costa ocidental africana. Ora, portanto o que se fundou em 1500 foi o lado americano de um império colonial e a nossa independência em 1822 foi parcial, pois não chegou às possessões portuguesas do outro lado do Atlântico.
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Tiradentes sem a fantasia de Jesus Cristo |
2. Por que chamar até hoje os movimentos de independência "inconfidência" ou mesmo "conjuração"? Isso mesmo num contexto que, pelo menos localmente, esses movimentos são celebrados com aquela típica mescla de amnésia [com relação aos pontos conflitivos] e oba-oba [com relação ao Tiradentes fantasiado de Jesus Cristo etc e tal].
3. Por que enfatizar sempre o fato de que esses movimentos "não tinham amplitude nacional" e eram "confinados às províncias X ou Y" [obviamente quando se comemora os ditos movimentos fora de Minas Gerais, Pernambuco e Bahia]? Não foi a chegada de Cabral também sem "amplitude nacional" e "confinado" ao que seria uma província do que seria muito tempo depois o Brasil [e não custa lembrar que o Grão-Pará só foi incorporado [e mesmo assim nominalmente] ao "Brasil" no século XVIII.
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