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Aventuras no lixão e desvarios da imaginacão

1. Ando trabalhando demais, num ritmo intenso, conjugando umas poucas horas dedicadas ao meu ofício propriamente dito e umas muitas e longas horas dedicadas a coisas chatérrimas que meu ofício agora parece exigir de mim.

2. Para respirar assisti há dois dias atrás a um episódio de uma série americana dessas famosas. Um lixo. Como McDonald's é um lixo. Um lixo que eu, de vez em quando, me permito consumir. Clarice Lispector declarou uma vez num texto curtinho, com aquela ironia séria e intensa dela, que tinha hora para tudo e que aquela era hora de lixo. Pois então. Vamos ao lixão. Com parcimônia, sem passar lá todos os dias. Mas vamos.

3. Caso policial de assassinato envolvendo múltiplas gangues em Washington DC. Uma era de negros com cara de malvado, uma de chineses com cara de malvado, uma de russos com cara de malvado e uma de latinos com cara de malvado. Duzentos profissionais altamente qualificados trabalhando sem medir horas extras ou equipamento de alta tecnologia na investigação do tal assassinato. Todas as mulheres da equipe de salto agulha, corpo e cara de modelo e roupa chique. Na gangue latina, todos os estereótipos possíveis sobre os latinos nos Estados Unidos, homens e mulheres: brincos de argola gigantes, mães gritando e descendo a mão nos filhos, garotas com visual chola dos anos 90, sujeito que só sabem falar meio rosnando e arreganhando as narinas, cabeças raspadas com lenços, tatuagens na cara, etc. Até agora, tudo bem [eu não vou ao McDonald's esperando algum quitute sutil].

Isso é uma  Flauta
4. Eu não me surpreendi nem me indignei. O mesmo seriado uma vez tinha colocado a investigadora sabe-tudo explicar aos seus subordinados que o apelido do personagem brasileiro de nome "Barassa" [certamente Brasa] era "Birimbau", que era uma "flauta" tocada no Brasil. Mas tudo bem. É tudo uma bobeirada total mesmo, um caso de detetive temperado com aquelas patriotadas gringas de sempre.

5. Mas aí eles resolvem chamar a tal perigosa gangue latina de "estrellas locos". Será o São Bendito que não tinha um cristão no meio daquele mar de gente que produz esses troços que não pudesse pelo menos acertar o gênero da palavra "estrella"?! Tudo bem que no McDonald's a carne tem gosto de caldo knorr e uma porção de batata-frita tem 5 bilhões de caloria e 3 kilos de sal, mas esse "estrellas locos" foi como encontrar um esparadrapo dentro do sanduíche. Birimbau ser flauta eu achei até graça, mas uma gangue chamada "estrellas locos"... só me conformei quando pensei que "estrellas locas" também estaria mais para um show de transformistas que para uma gangue de rua. Taí um seriado que seria bem mais divertido. As aventuras da trupe do "Estrellas Locas".

Estrela Maior do Meu Seriado Imaginário

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