Nusrat Fateh Ali Khan (1948 – 1997) é um cantor paquistanês de Qawalli, antiga tradição sufi e expressão musical e poética maravilhosa daquele mundo muçulmano não-árabe.
Na minha vida adulta só me senti tentado a abraçar uma religião [no sentido coletivo da coisa] duas vezes: quando assisti a uma missa gospel ao vivo aqui em New Haven e quando ouço um desses concertos de Qawalli com Nusrat. Sem ofensas mas participar de uma comunidade religiosa deve ser uma chatura, então o encanto se desfaz logo. Agora a música ajuda. As missas que tive que frequentar quando passei um verão na praia na casa de um amigo, por outro lado, me vacinaram completamente contra o catolicismo - não a fé, mas a liturgia fria e chatíssima. Quem sabe uma sessão massiva de Bach numa igreja de Ouro Preto cheia de incenso e mirra? Na base daquelas musiquinhas de devoção naquele chaque-chaque de violão de acampamento, acho que o catolicismo no Brasil estaria extinto.
Adoro nesses concertos a longa e lenta construção de um transe musical coletivo entre músicos e platéia. E que vozes, por Alah!
Mas adoro também o ataque incessante daquelas duas sanfoninhas/caixote, que poderiam facilmente estar levando um baião arretado no interior de Pernambuco.
E não deixo de me espantar com o rosto de todos os cantores da banda, tipos que eu certamente poderia ter encontrado passeando uma tarde pelo centro de Belo Horizonte. Que mistério a facilidade com que me lembro de ver gente com esse aspecto indiano/paquistanês nas ruas da minha cidade. Como é que os mestiços de Minas Gerais acabam ficando com cara de indiano? Seria a carne de zebu? Deve ser um dos efeitos de um excesso de saudade. Talvez um sinal de que está na hora de voltar para casa.
Aqui o concerto completo e uma ótima entrevista:
Na minha vida adulta só me senti tentado a abraçar uma religião [no sentido coletivo da coisa] duas vezes: quando assisti a uma missa gospel ao vivo aqui em New Haven e quando ouço um desses concertos de Qawalli com Nusrat. Sem ofensas mas participar de uma comunidade religiosa deve ser uma chatura, então o encanto se desfaz logo. Agora a música ajuda. As missas que tive que frequentar quando passei um verão na praia na casa de um amigo, por outro lado, me vacinaram completamente contra o catolicismo - não a fé, mas a liturgia fria e chatíssima. Quem sabe uma sessão massiva de Bach numa igreja de Ouro Preto cheia de incenso e mirra? Na base daquelas musiquinhas de devoção naquele chaque-chaque de violão de acampamento, acho que o catolicismo no Brasil estaria extinto.
Adoro nesses concertos a longa e lenta construção de um transe musical coletivo entre músicos e platéia. E que vozes, por Alah!
Mas adoro também o ataque incessante daquelas duas sanfoninhas/caixote, que poderiam facilmente estar levando um baião arretado no interior de Pernambuco.
E não deixo de me espantar com o rosto de todos os cantores da banda, tipos que eu certamente poderia ter encontrado passeando uma tarde pelo centro de Belo Horizonte. Que mistério a facilidade com que me lembro de ver gente com esse aspecto indiano/paquistanês nas ruas da minha cidade. Como é que os mestiços de Minas Gerais acabam ficando com cara de indiano? Seria a carne de zebu? Deve ser um dos efeitos de um excesso de saudade. Talvez um sinal de que está na hora de voltar para casa.
Aqui o concerto completo e uma ótima entrevista:
Comments
Ora, comparable sería Milton Nascimento cuando estaba inspirado.