Colagem minha: Um par de mitos |
Um par de mitos
Eis aqui meu novo mito:
Escrever é cantar e dançar por dentro.
Tudo distante, tudo deserto,
tudo cantado, tudo perfeito:
nada mais a fazer senão repetir.
Mas a cada novo respiro, um poema
e um novo intercâmbio com o mundo.
Somos animais de suspiros,
animais musicais
que amam a dança
e se recriam no canto.
E escrever é cantar e dançar por
dentro.
Eis meu mito mais antigo:
Havia um tempo antes de todos nós,
quando a terra girava em torno do sol,
que parecia cruzar o céu de leste a
oeste
iluminando tudo mais que já existia
e quando a lua aparecia e sumia do céu
de noite,
justo com o inchar e desinchar das
marés silenciosas.
E os animais nasciam, viviam e morriam
na mais pura e inocente injustiça,
e ninguém dava pela falta de absolutamente
nada.
Tudo distante, tudo deserto,
tudo cantado, tudo perfeito:
nada mais a fazer senão assistir
descarnado
a crueza e o sofrimento desse deserto
sem gente.
Nada a propor, nada a esperar, nada a
crer.
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