Igreja de São José da Boa Morte em Macacu, foto de Vítor Gabriel |
São muitas as nossas possibilidades:
No coração
basta um tiro certeiro;
No pescoço,
uma forca bem feita;
Pela boca
ou pela veia,
uma injeção
ou um copo cheio
de remédio
ou de veneno.
Basta um toque
dum dedo
num fio
desencapado.
Na cabeça
basta um saco plástico.
Basta uma lâmina
afiada
que corra do
pulso ao antebraço.
Longe dos
trópicos,
basta uma
noite fria
passada ao
relento.
Pode-se pular
dum lugar bem alto
ou cercar-se
de água por todos os lados.
Pode-se dormir
com o motor ligado
numa
garagem fechada.
Pode-se atirar-se
na frente de um trem
ou atirar
barranco abaixo o próprio carro.
Ou então basta
seguir vivendo
até que o
coração pare
ou os rins
se estraguem.
Até que
venha um câncer
na bexiga, no
útero, no seio,
no cólon, no
baço, no reto,
no sangue,
na pele, no pulmão,
na
próstata, no pâncreas, nos rins,
na bendita tireoide.
Até que um pulmão
murche
ou um vaso estoure.
Até que nos
encontre numa esquina
desprovidos
de antibióticos
a
tuberculose, essa velha senhora,
ou suas
irmãzinhas velhacas,
a pneumonia
e a influenza.
Até que
leiamos no próprio corpo
um catálogo
de inflamações.
Até que os
ventos do tempo tragam
as nuvens
carregadas de nada da demência
ou as marés
de doçura venenosa da diabetes:
São muitas
as nossas possibilidades.
Comments