Ora, para que servem as amizades de internet? Para mim, amizade não tem que servir para nada, mas minhas amizades na internet [criadas aqui, na internet] são criadas nas afinidades de temas e na garimpagem de pedras preciosas nesse Amazonas enlameado de [des]informação. Renata Marques, além de ter um CD muito legal flutuando por aí para quem quiser ouvir e de escrever com um ouvido muito sensível para a língua portuguesa suja de capim e minério que circula por Minas Gerais, já me apresentou a poesia da irmã dela e, com grande animação, essa banda do Rio de Janeiro que eu, no meu bairrismo instintivo, pensei ser de Minas Gerais. Passo para frente, na esperança que outros se entusiasmem. O álbum deles está também disponível por aí.
Casa
Casa
Cairé Rego, David Rosenblint,
Felipe Ventura, Gabriel Vaz, João Pessanha, Sofia Vaz
Minha casa é simples, mas é forte todavia. Chove todo dia uma
calma solidão.
Vento que arranca dos varais uma lembrança – tudo que me
alcança - era sonho,
agora, não.
Da janela, vejo luzes da cidade, o peso, todo o desejo de um
lugar nesse clarão. Como eles correm tão certinhos quanto à sorte; rima com a
morte. Mando um grito, mando um sinal.
Ninguém nunca vê a minha casa.
Ninguém nunca entra.
Ninguém nunca entra.
Minha casa é simples, mas é minha toda vida. Chove todo dia –
uma brava solidez.
Onda que me lança, nunca quebra, só avança, faz da dor
bonança. Soa o sino –
agora, sim.
Sei que já é tarde. Hoje desço pra cidade – algo que se
parte. Dou à sorte o meu amor.
Em cima de um morro nem tão alto, nem tão baixo. Será que eu
encaixo? Era sonho.
Agora, não.
Agora, não.
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