Skip to main content

Recomendação: consenso só no paredão

Alexandre Nodari tem um blogue da pesada: inteligente, praticante de uma crítica profunda, além do lugar comum.
Recentemente comentei um post dele e reproduzo minha resposta aqui:
Eu me irrito profundamente quando me vejo quase obrigado a defender esse governo daqueles que se opõe a ele em nome de uma pretensa defesa da ética - defesa que eu tenho certeza que vai se transformar em fumaça no dia em que o PSDB/PFL retomar triunfalmente a Brasília. Minha irritação vem do simples fato de que minhas muitas objeções principais ao governo Lula continuam a ser ignoradas no pretenso "debate político" nacional que vive chafurdado em um udenismo moralista, nos obrigando a falar de honestidade ao invés de falar de ideologia, por exemplo. Uma dessas minhas objeções ignoradas no debate público brasileiro vem desse vergonhoso estelionato eleitoral, que é quase uma regra em um mundo "democrático" que vive uma crise agonizante que todo mundo finge que não vê: governo "gerencial" obedecendo às boas maneiras do consenso de Washington com todos os dogmas neoliberais absolutamente intactos. Basta ver o que aconteceu com o trabalhismo inglês para entender o que aconteceu com o PT de José Dirceu e Lula: rumo ao "centro", rumo ao vazio completo, rumo ao desastre.

Comments

Anonymous said…
Claro que todos nós gostariamos que os grandes debates da política nacional girassem em torno das questões ideológicas mais elevadas, mas não dá pra passar o carro na frente dos bois. É difícil discutir ideologia num cenário em que a desonestidade ainda é um dos maiores problemas pois acabamos obrigados a decidir qual é a melhor corrupção: a da esquerda ou a da direita?
Não acho que esse governo deva ser defendido daqueles que o atacam em nome de uma pretensa defesa da ética, por que a sua falta de ética não tem nada de pretensa. Falta de ética tem de ser denunciada e combatida não inporta por quem nem em nome de que, pois qualquer avanço que for conseguido nessa área fatalmente vai se refletir nos próximos governos mesmo que sejam do DEM ou do PSDB.
Fred, eu entendo sua indignaçao e eu tambem me recuso a ter que meramente escolher entre corrupcao da direita e de esquerda. Mas o respeito a etica nao deveria ser encarada como uma "qualidade especial" do candidato a ou b e sim como obrigacao de qualquer pessoa e de todos os candidatos. Cabe ao eleitor nao reeleger o deputado que reconhecidamente participou em algum esquema de corrupcao. Mas eu nao quero de jeito nenhum ser governado por um governo de direita, mesmo um governo de direita honestissimo! E o fato eh que, ganhe quem for nas eleicoes, eu acabo governado precisamente por esse governo de direita que eu rejeito. Em outras palavras, eu perco quando perco e perco quando ganho tambem! O desanimo geral com a politica, e pior que ele, a opcao crescente no mundo inteiro por uma forma violenta de fazer politica, nao eh fruto da corrupcao, mas sim dessa falta de mudancas substantivas em qualquer caso. Valeu o seu comentario!

Popular posts from this blog

Protestantes e evangélicos no Brasil

1.      O crescimento dos protestantes no Brasil é realmente impressionante, saindo de uma pequena minoria para quase um quarto da população em 30 anos: 1980: 6,6% 1991: 9% 2000: 15,4%, 26,2 milhões 2010: 22,2%, 42,3 milhões   Há mais evangélicos no Brasil do que nos Estados Unidos: são 22,37 milhões da população e mais ou menos a metade desses pertencem à mesma igreja.  Você sabe qual é? 2.      Costuma-se, por ignorância ou má vontade, a dar um destaque exagerado a Igreja Universal do Reino de Deus e ao seu líder, Edir Macedo. A IURD nunca representou mais que 15% dos evangélicos e menos de 10% dos protestantes como um todo. Além disso, a IURD diminuiu seu número de fiéis   nos últimos 10 anos de acordo com o censo do IBGE, ao contrário de outras denominações, que já eram bem maiores. 3.      Os jornalistas dos jornalões, acostumados com a rígida hierarquia inst...

Poema meu: Saudades da Aldeia desde New Haven

Todas as cartas de amor são Ridículas. Álvaro Campos O Tietê é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia, mas o Tietê não é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia porque não corre minha aldeia. Poucos sabem para onde vai e donde vem o ribeirão da minha aldeia, 
 que pertence a menos gente 
 mas nem por isso é mais livre ou menos sujo. O ribeirão da minha aldeia 
 foi sepultado num túmulo de pedra para não ferir os olhos nem molhar os inventários da implacável boa gente da minha aldeia, mas, para aqueles que vêem em tudo o que lá não está, 
 a memória é o que há para além do riberão da minha aldeia e é a fortuna daqueles que a sabem encontrar. Não penso em mais nada na miséria desse inverno gelado estou agora de novo em pé sobre o ribeirão da minha aldeia.

Contos: "O engraçado arrependido" de Monteiro Lobato

Monteiro Lobato conta em "O engraçado arrependido" a história trágica de um homem que não consegue se livrar do papel de palhaço da cidade, papel que interpretou com maestria durante 32 anos na sua cidade interiorana. Pontes é um artista, um gênio da comédia e por motives de espaço coloco aqui só o miolo da introdução em que o narrador descreve o ser humano como “o animal que ri” e descreve a arte do protagonista: "Em todos os gestos e modos, como no andar, no ler, no comer, nas ações mais triviais da vida, o raio do homem diferençava-se dos demais no sentido de amolecá-los prodigiosamente. E chegou a ponto de que escusava abrir a boca ou esboçar um gesto para que se torcesse em risos a humanidade. Bastava sua presença. Mal o avistavam, já as caras refloriam; se fazia um gesto, espirravam risos; se abria a boca, espigaitavam-se uns, outros afrouxavam os coses, terceiros desabotoavam os coletes. E se entreabria o bico, Nossa Senhora! eram cascalhadas, eram rinchavelhos, e...